Doutrina política que prega a abolição do Estado como ponto de partida para a construção de uma sociedade alternativa, onde as relações entre os indivíduos sejam livres, igualitárias e desprovidas de qualquer coerção. Por isso, os partidários do anarquismo são também chamados de libertários. Nessa perspectiva, o anarquismo rejeita qualquer princípio de autoridade — seja do Estado, de instituições, de grupos sociais ou de indivíduos. Essa proposta política implica uma nova organização econômica da sociedade. De inspiração socialista, propõe a abolição da propriedade privada capitalista, o fim da exploração do homem pelo homem, a coletivização dos meios de produção e a solidariedade entre os produtores (trabalhadores). A administração geral da vida social baseia-se na autogestão de cada unidade produtiva; coletivamente, os trabalhadores decidiriam sobre as formas de organização do trabalho, produção, troca e distribuição dos produtos e relacionamentos com o conjunto da sociedade. Em escala regional e nacional, as unidades produtivas se uniriam livremente em federações não burocráticas, que teriam funções administrativas, legislativas e executivas, podendo seus membros serem destituídos a qualquer momento, de acordo com a vontade dos indivíduos que os elegeram. No século XIX, o anarquismo foi uma das tendências mais expressivas no movimento operário europeu. Embora tenha vários precursores, foi o francês Pierre Joseph Proudhon o primeiro a considerar- se anarquista. Para ele, no entanto, a abolição do Estado e da propriedade capitalista viriam gradualmente, como resultado de um processo de organização dos trabalhadores e pequenos proprietários em cooperativas de produção e colaboração mútua. Já para o anarquista russo Mikhail Bakunin, discípulo de Proudhon, o fim do capitalismo e o advento de uma sociedade anarquista só seriam possíveis por meio da ação revolucionária das massas. Concordava nisso com os marxistas, chamados, entretanto, por Bakunin de “socialistas autoritários”, por defenderem a organização política dos trabalhadores em partidos e advogarem a manutenção do Estado como instrumento de construção da nova ordem econômica. O anarquismo teve grande influência na Espanha, na França, na Itália, na Suíça e em Portugal. Foi trazido para o Brasil pelos imigrantes europeus no final do século XIX, tornando-se a principal tendência ativa no movimento sindical até meados dos anos 20. Veja também Bakunin; Kropotkin; Proudhon; Sindicalismo; Socialismo.