Continuação da Conferência para a Cooperação Econômica Internacional (Conferência de Paris), realizada em 1975, onde pela primeira vez na história contemporânea se reuniram representantes de 22 países desenvolvidos e em desenvolvimento para debater pendências econômico-financeiras. A Conferência de Cancún ocorreu nos dias 22 e 23 de outubro de 1981, naquela cidade turística do México, e visava também a retomar o diálogo entre Norte e Sul, iniciado na Conferência de Paris. Foi precedida por reuniões preparatórias dos países do Terceiro Mundo, que buscavam definir uma estratégia comum de atuação. A principal reivindicação desses países, entre eles o Brasil, era que se iniciasse um processo de negociação global na busca de soluções para os problemas dos países subdesenvolvidos. Pretendia-se uma abordagem global e integrada dos problemas de relacionamento econômico entre o Norte e o Sul, em lugar dos tradicionais entendimentos bilaterais. Outros dois pontos importantes preocupavam os países subdesenvolvidos: de um lado, os preços baixos para a exportação de suas matérias-primas; de outro, as altas taxas de juros cobradas nos Estados Unidos, em prejuízo dos países não produtores de petróleo, que obtinham dólares por meio de empréstimos. Por pressão norte-americana, ficou acertado que a Conferência de Cancún não teria caráter negociador, consistindo basicamente numa troca de pontos de vista entre os chefes de Estado. Não se expediu tampouco nenhum documento final. O presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, presente à conferência, manifestou-se contrário a qualquer tipo de negociação global. A posição defendida pelo Brasil, de inter-relacionamento da economia mundial na presente conjuntura, com a abordagem global de todos os problemas, e não apenas setorial e gradualista, foi encampada pela maioria dos países em desenvolvimento, com o apoio da França, entre os desenvolvidos, seguida da Alemanha Federal e de uma “predisposição favorável” do Japão. Para Reagan, porém, o desenvolvimento dos países do Terceiro Mundo dependeria do auxílio que prestassem a si próprios, por meio de investimentos privados e do comércio internacional, sem esperar por ajuda maciça das nações mais ricas. Em seu discurso, o presidente norte- americano enfatizou que a melhor maneira de acabar com a pobreza é dar rédeas livres ao capitalismo por intermédio do setor privado, em vez de contar com ajuda externa em massa e melhor tratamento comercial. Representando o Brasil, o chanceler Saraiva Guerreiro reivindicou a revisão dos padrões de intercâmbio comercial; criticou as multinacionais pelo controle do mercado internacional; classificou de protecionista e discriminatória a proposta de graduação dos países desenvolvidos e disse que os países socialistas do Leste Europeu não poderiam eximir-se “da parcela de responsabilidade que lhes cabe no campo da cooperação internacional”. Criticava, assim, também a ausência da União Soviética, que não participou da conferência, apesar de oficialmente convidada. Participaram da conferência os seguintes países: Alemanha Ocidental, Áustria, Canadá, Estados Unidos, França, Inglaterra, Japão e Suécia (Norte); Arábia Saudita, Argélia, Bangladesh, Brasil, China, Costa do Marfim, Guiana, Índia, Iugoslávia, México, Nigéria, Filipinas, Tanzânia e Venezuela (Sul).