Consequências das grandes navegações iniciadas por Portugal e Espanha no século XV com o objetivo de explorar novas rotas marítimas para comerciar com o Oriente. Os descobrimentos não só de um novo caminho para as Índias, mas de todo o continente americano (configurando o que já se chamou de revolução geográfica), situam-se no contexto da revolução comercial iniciada no século XIV, como desenvolvimento das trocas entre as cidades italianas e o Norte da Europa, a introdução de moedas de circulação geral e a acumulação de capitais excedentes, entre outros fatores. Os países da Península Ibérica buscavam uma nova rota para o Oriente, pois eram obrigados a pagar altos preços pelos produtos importados da Ásia pelas cidades italianas, que monopolizavam o comércio com o Oriente através do mar Mediterrâneo até serem barradas pelos turcos em 1453, quando estes tomaram Constantinopla. Essa busca foi facilitada pelos progressos do conhecimento geográfico, pelo uso de instrumentos de navegação, como a bússola e o astrolábio, e pela caravela, embarcação de grande tonelagem e notável desempenho, desenvolvida em Portugal. Em meados do século XV, os portugueses descobriram e colonizaram a Madeira e os Açores e exploraram a costa africana até a Guiné. Em 1497, Vasco da Gama contornou a extremidade sul da África, chegando no ano seguinte à Índia. Na mesma época, o genovês Cristóvão Colombo, a serviço da Espanha, chegava ao continente americano (1492), seguido por outros navegantes e conquistadores, como Cortez e Pizarro. Resultou daí a fundação de um vasto império colonial espanhol, que incluía a atual porção sudoeste dos Estados Unidos, a Flórida, o México, as Antilhas, a América Central e toda a América do Sul, com exceção do Brasil, descoberto pelos portugueses em 1500. Seguiram-se viagens inglesas e francesas: as de Giovanni e seu filho, Sebastiano Caboto, em 1497-1498, deram base às pretensões inglesas na América do Norte, reforçadas em 1607 com a colonização da Virgínia; as de Cartier asseguraram aos franceses o Canadá oriental no início do século XVII e, cem anos depois, Joliet, La Salle e o padre Marquette permitiram à França estabelecer-se no vale do Mississípi e na região dos Grandes Lagos. Os holandeses, ao se libertarem do domínio espanhol, lançaram-se também à conquista de terras e, embora tivessem de entregar aos ingleses sua colônia de Nova Holanda, na região do rio Hudson, mantiveram suas possessões de Malaca, as Molucas e os portos da Índia e da África tomados aos portugueses no começo do século XVII. O comércio, que até os descobrimentos se limitara ao Mediterrâneo, assumiu pela primeira vez proporções mundiais, oceânicas. Seu eixo deslocava-se nitidamente do Oriente, terra de sonhos e luxos, para um Ocidente mais prático e imediatista. O monopólio do tráfico oriental mantido pelas cidades italianas foi eliminado, e os portos de Lisboa, Bordeaux, Liverpool, Bristol e Amsterdã ocuparam o primeiro plano. Com a descoberta e o crescente consumo dos produtos tropicais americanos e africanos, como tabaco, chocolate, melaço e marfim, ocorreu um aumento considerável no volume do comércio. Intensificou-se também o tráfico de escravos. Mas o resultado mais importante dos descobrimentos foi a expansão do suprimento de metais preciosos. Calcula-se que o total do ouro e da prata em circulação na Europa quando Colombo descobriu a América havia aumentado de cinco vezes por volta de 1600, uma inflação de metais preciosos que provocou violenta alta de preços, beneficiando os comerciantes e prejudicando a nobreza fundiária sujeita a rendas fixas. Os metais preciosos vinham da pilhagem dos tesouros incas e astecas e principalmente das minas do México, do Peru e da Bolívia. Nenhuma outra causa influi tão decisivamente no desenvolvimento da economia capitalista como esse descomunal aumento das reservas de metal precioso na Europa. A acumulação de riquezas para investimento futuro é uma característica essencial do capitalismo, e os homens dispunham então de riqueza sob uma forma que podia ser convenientemente armazenada para uso subsequente. O rápido afluxo de metais preciosos induziu ainda à especulação: à medida que eram descobertas novas jazidas, umas revelando-se mais rendosas, outras menos, o valor dos metais preciosos sofria flutuações, que se refletiam nos preços das mercadorias; nesse contexto, jogavam os mercadores e banqueiros. Veja também Comércio; Comércio Internacional; Feudalismo; Revolução Industrial.