Ativista e dirigente político socialista, teórico e principal líder da Revolução Russa de 1917, primeiro dirigente da ex-União Soviética e fundador da III Internacional. Iniciou sua carreira revolucionária em 1887, ao entrar para a Faculdade de Direito da Universidade de Kazan. Repeliu o terrorismo depois que seu irmão mais velho foi enforcado por ter-se envolvido num atentado contra o czar Alexandre III. Em 1893, em São Petersburgo, uniu-se a intelectuais marxistas que atuavam junto aos operários. No ano seguinte, publicou clandestinamente seu primeiro trabalho, Quem São os Amigos do Povo e como Lutam os Social-Democratas?, 1894. Em 1895, entrou em contato com Plekhanov e outros marxistas russos exilados em Genebra. De volta à Rússia, Lênin e seus companheiros tentaram fundar um jornal clandestino, mas foram presos antes da publicação do primeiro número. Após catorze meses de prisão, foi exilado para a Sibéria, onde permaneceu três anos. Durante o exílio, completou o livro O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia, 1899, no qual analisa a formação do mercado interno na Rússia czarista. Em 1900, seguiu para a Suíça, aproximando-se de Plekhanov. Em janeiro de 1901, surgia o jornal revolucionário Iskra (A Centelha). Foi num artigo publicado no Iskra, “A Questão Agrária e os Críticos de Marx”, que pela primeira vez usou o pseudônimo de Lênin. O segundo Congresso do Partido Social Democrata Russo (fundado em 1898), realizado em Londres em 1903, provocou uma divisão no movimento socialista. Alguns dirigentes (Plekhanov, Martov e Axelrod) sustentavam que a revolução socialista deveria ser precedida por uma revolução democrático-burguesa que instaurasse o liberalismo. Lênin defendia a aliança entre operários e camponeses como condição indispensável para a vitória da revolução, pois a burguesia seria incapaz de assumir a liderança do processo. A posição de Lênin teve mais votos; seus adeptos ficaram conhecidos pelo nome de “bolcheviques” (majoritários), enquanto os outros receberam a denominação de “mencheviques” (minoritários). Com a Revolução de 1905, Lênin voltou à Rússia. Mas o fracasso do movimento levou-o novamente ao exílio. Nos anos seguintes, dedicou-se aos estudos filosóficos, publicando Materialismo e Empirocriticismo, 1909, e à organização do movimento social-democrata, na Rússia e em escala internacional. Durante a Primeira Guerra Mundial, atacou os socialistas que aderiram às concepções de defesa nacional, insistindo na necessidade de os operários de cada país transformarem a guerra em revolução. Participou das conferências socialistas pacifistas nas localidades suíças de Zimmerwald (1915) e Kienthal (1916). Analisando as relações entre a sociedade capitalista e a guerra, Lênin escreveu O Imperialismo, Etapa Superior do Capitalismo, 1916, sua mais importante contribuição à economia política. Apoiando-se nas concepções de Hilferding sobre o capital financeiro, analisa o imperialismo como uma etapa do desenvolvimento do capitalismo em que se estabelece a hegemonia dos monopólios e dos grandes bancos. A própria dinâmica de formação e ampliação de mercados levaria o capitalismo a buscar a dominação colonial e a guerra. Lênin aponta ainda a acentuada importância que a exportação de capital adquiriu, a divisão do mundo entre trustes internacionais e a situação dos territórios coloniais fornecedores de matéria-prima e mão de obra barata repartidos entre as grandes potências capitalistas. E a combinação de revoltas na periferia do sistema com revoluções proletárias nas metrópoles, que tornaria inevitável o advento do socialismo. Após a queda do czar, provocada pelas revoltas populares em São Petersburgo, em fevereiro de 1917, Lênin voltou à Rússia. Logo em seguida, elaborou suas Teses de Abril, propondo, entre outras medidas, a paz imediata, a confraternização com os soldados alemães, o poder para os soviets (conselhos) populares e a expropriação de terras e fábricas. Orientados por essas palavras de ordem, os bolcheviques realizaram intensa propaganda junto aos operários, camponeses e soldados. Em novembro de 1917, foi derrubado o governo provisório de Kerenski, e Lênin tornou-se presidente do Conselho dos Comissários do Povo. Sob sua influência, o Congresso dos Soviets aprovou um decreto abolindo a grande propriedade rural, confiscando terras da família imperial e da Igreja e nacionalizando os bancos e as grandes indústrias. Em 1918, em Brest-Litovsk, foi assinada a paz em separado com a Alemanha. Em condições adversas, o recém-criado Exército Vermelho enfrentou a contrarrevolução, de 1918 a 1921, estimulada tanto dentro como fora da ex-União Soviética. Até 1921 vigorou o chamado “comunismo de guerra”, mas nesse ano começou a ser aplicada a Nova Política Econômica (NEP), um retorno tático e parcial à economia de mercado, imposto pela virtual destruição das estruturas econômicas do país. Simultaneamente, Lênin criou o plano de eletrificação da ex-União Soviética. Em maio de 1922, Lênin sofreu uma hemorragia cerebral. Em novembro, ditou seu testamento, no qual recomendava a ampliação do Comitê Central do Partido Comunista, para tornar possível uma representação mais democrática. Em 1923, sofreu um segundo ataque, morrendo no ano seguinte. Do ponto de vista de sua contribuição à economia política, destacam-se os escritos a respeito do imperialismo e seu estudo pioneiro sobre o desenvolvimento do capitalismo na Rússia. Nesse livro, mostra a inconsistência teórica da corrente populista, que afirmava haver a possibilidade de a Rússia ser um país agrícola, evitar o “estágio ocidental” do capitalismo e passar diretamente do feudalismo ao socialismo. Os populistas argumentavam que a viabilidade do capitalismo na Rússia era problemática, pois arruinaria a economia camponesa, limitando seu mercado interno, e não teria nenhuma possibilidade de expansão devido à ocupação dos mercados externos pelos países industrializados. Baseado em dados concretos, Lênin pôde mostrar que a ruína dos camponeses não implica a liquidação do mercado interno para o capitalismo. Ao contrário, é uma consequência necessária do processo de instalação e evolução do capitalismo, que promove a industrialização, acelera e aprofunda as contradições já existentes na comunidade camponesa, desintegrando-a e liberando as massas para a formação do proletariado. Na estrutura de sua obra, Lênin realiza um mapeamento do conjunto da economia agrária russa, examina a mercantilização das atividades agrícolas e verifica a penetração do capitalismo na agricultura. Analisa em seguida as atividades industriais, estabelecendo as fases evolutivas do capitalismo na indústria russa, da modalidade artesanal até o advento da grande indústria mecanizada, que ele examina em detalhes. Outras obras importantes deste autor, traduzidas em mais de cem idiomas: O Que Fazer?, 1902; Duas Táticas da Social-democracia na Revolução Democrática, 1905; Um Passo à Frente, Dois Passos Atrás, 1904; O Estado e a Revolução, 1917; O Socialismo e a Guerra, 1915; e O Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo, 1920. Veja também Imperialismo; Proletariado, Ditadura do; Social-democracia; Socialismo.