Estrutura empresarial básica do capitalismo dominante nos países altamente industrializados. Caracteriza-se por desenvolver uma estratégia internacional a partir de uma base nacional, sob a coordenação de uma direção centralizada. Segundo Raimon Vernon, trata-se de “uma companhia que tenta conduzir suas atividades em escala internacional, como alguém que acredita não existirem fronteiras nacionais, com base em uma estratégia comum dirigida pelo centro corporativo”. Conhecidas também pela denominação de empresas internacionais ou transnacionais, as multinacionais resultam da concentração do capital e da internacionalização da produção capitalista. O processo teve início no final do século XIX, quando o capitalismo superou sua fase tipicamente concorrencial e evoluiu para a formação de monopólios, trustes e cartéis — fenômeno que acompanhou a hegemonia do capital financeiro no modo de produção capitalista e se tornou conhecido como imperialismo. Nesse novo processo de realização do capital, surge um mercado mundial de produção de bens, de serviços e de utilização de mão de obra, cujos resultados consistem no desenvolvimento do poderio econômico, político e militar das potências industriais: Estados Unidos, Canadá, Japão, Grã-Bretanha, França, Alemanha e outras nações europeias. A ação das empresas multinacionais acelerou-se após a Segunda Guerra Mundial, alterando substancialmente as relações entre os centros hegemônicos do capitalismo e a periferia do sistema. As empresas estrangeiras, a partir de então instaladas nos países periféricos, não se limitam às transações de exportação e importação ou exploração de produtos primários, particularmente no setor extrativo. As “filiais” atuam cada vez mais no âmbito da produção, não só para o mercado interno mas também para o mercado externo, quando é do interesse da “matriz”. Os objetivos e formas de atuação das empresas multinacionais foram claramente expostos por um executivo norte-americano: “É nosso objetivo estar presente em todo e qualquer país do mundo. Nós, na Ford Motor Company, olhamos o mapa do mundo como se não existissem fronteiras. Não nos consideramos basicamente uma empresa americana. Somos uma empresa multinacional. E quando abordamos um governo que não gosta dos Estados Unidos, nós sempre lhe dizemos: ‘De quem você gosta? Da Grã-Bretanha? Da Alemanha? Nós temos várias bandeiras. Nós exportamos de todos os países’”. No entanto, essa “diplomacia” peculiar das multinacionais não significa que elas tenham rompido laços com a nação de origem. Segundo Manuel Castells, a maioria dessas corporações é norte-americana e é o governo dos Estados Unidos que defende seus interesses, que se estendem a todo o mundo. Suas atividades, ainda segundo esse estudioso, tecem cadeias articuladas entre um país e outro, dependendo de quão favoráveis sejam as circunstâncias. Entretanto, não se encontram acima dos aparelhos de Estado de cada país. Pelo contrário, essas corporações são ligadas a estes de forma concreta, atuando contrariamente entre si e organizando de diferentes modos seus laços com a “burguesia interior” de cada sociedade. Frequentemente, para fazer frente aos concorrentes, os grandes monopólios multinacionais operam fusões entre si ou limitam as áreas de atuação de cada um. Assim, na Grã-Bretanha, entre 1967 e 1968 ocorreram cerca de 5 mil casos de fusões, uniões ou incorporações de grandes empresas, visando sobretudo a defesa do mercado contra as concorrentes norte-americanas. No Japão, multinacionais unem-se em grandes conglomerados chamados zaibatsu; apenas seis deles controlam 40% do total das exportações do país e 50% das importações. Mundialmente conhecidas são as multinacionais do petróleo, as chamadas “sete irmãs” — Exxon, British Petroleum, Shell, Gulf, Texaco, Socal e Mobil —, principais beneficiárias da crise do petróleo desencadeada a partir de 1973. Veja também Capitalismo; Imperialismo; Monopólio; Oligopólio; Petróleo, Crise do.