Designação dada por alguns autores ao capitalismo dos países altamente industrializados na atualidade, caracterizado pela aplicação de medidas que visam ao bem-estar social. Corresponderia, por exemplo, ao perfil do Novo Estado Industrial traçado por J.K. Galbraith, ou ao Estado do Bem-Estar Democrático analisado por Gunnar Myrdal. No Plano Real, o exemplo mais acabado de neocapitalismo está nas social- democracias europeias e na sociedade norte-americana. O conceito de neocapitalismo parte de uma comparação histórica. O capitalismo liberal do século XIX baseava-se na concorrência entre empresas dirigidas por seus proprietários e na interação relativamente livre entre demanda, oferta e preços. O capitalismo moderno ou neocapitalismo, por sua vez, tem sua base na grande empresa oligopólica, que muitas vezes atua em vários setores da produção e cuja direção é exercida por profissionais. Na expressão de Galbraith, essa nova realidade capitalista define-se a partir da formação de grandes blocos de poder — grandes empresas, sindicatos, consumidores e Estado —, cada um deles atuando como um poder compensador (countervailing power) para corrigir os desequilíbrios do sistema. Os teóricos do neocapitalismo caracterizam-no de formas diferentes, enfatizando um dos seguintes aspectos: 1) Planejamento. É o aspecto dominante, na teoria de Galbraith. Para ele, o planejamento ocorre no âmbito da empresa e do Estado. A empresa regula as ações espontâneas do mercado por meio de preços administrados e do controle da quantidade de bens produzidos. Além disso, induz à criação de novas necessidades por intermédio dos mecanismos de propaganda. Nesse contexto, processa-se uma nova competição (a competição baseada em preços tornar-se-ia secundária), fundamentada na qualidade e na inovação. 2) Capitalismo popular. Teoria de Massimo Salvadori, que considera o aspecto mais marcante do capitalismo contemporâneo a difusão da propriedade, graças à existência de um grande número de pequenos acionistas, particularmente nos Estados Unidos e no Japão. Para ele, os Estados Unidos, com seus 30 milhões de acionistas (1970), tenderiam a tornar-se uma sociedade formada basicamente por capitalistas. 3) Corporação generosa. A ampla difusão das sociedades anônimas resultaria na perda do controle das empresas por seus proprietários (acionistas), na medida em que estes entregam essa função a especialistas (gerentes, executivos), que exerceriam o verdadeiro poder de direção e condução da empresa. Essa questão foi abordada por A.A. Berle e G.C. Means em A Moderna Sociedade Anônima e a Propriedade Privada (1932). Em A Revolução Capitalista do Século Vinte (1955), Berle também procurou mostrar que haveria um espírito público dos gerentes das empresas. E Carl Kaysen afirma que a grande corporação não teria avidez de lucros, mas se caracterizava pela generosidade. 4) Intervencionismo Estatal. Contrariando a tese de uma estabilidade gerada pelo monopólio, John Strachey afirma que os oligopólios tenderiam a desenvolver mais instabilidade e uma desigualdade mais extrema, o que seria revertido pela ação do Estado no âmbito da economia, como agente promotor de um eficiente sistema previdenciário. Além disso, salientou o papel do Estado como consumidor, particularmente no setor de armamentos. No âmbito do pensamento marxista, o enfoque dado ao capitalismo contemporâneo limita-se à análise de seu caráter monopolista, seu aspecto internacional voltado para a acumulação de mais-valia e o domínio dos mercados consumidores internacionais. Salienta-se ainda a relação entre os oligopólios e o Estado. Destacam-se as obras de Paul Sweezy e Paul Baran sobre o capitalismo norte-americano, as análises de Ernest Mandel (Capitalismo Tardio) e André Gorz. No livro Neocapitalismo e Estratégia Operária, Gorz discute os objetivos da luta pelo socialismo na moderna sociedade industrial, na qual os trabalhadores já teriam superado a fase da luta pela sobrevivência e, de certa maneira, participariam do consumo dos bens e serviços supérfluos criados pelo capitalismo. Veja também Capitalismo.