Situação decorrente dos sucessivos aumentos nos preços do petróleo decretados a partir de outubro de 1973 pelos Estados integrantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Seu elemento deflagrador foi, incontestavelmente, o conflito árabe- israelense de 1973, e seu antecedente mais importante foi a crise do sistema financeiro internacional causada pela desvalorização do dólar em 1971. Mas seu alcance era muito mais amplo: a crise expressava o projeto dos países produtores de petróleo no sentido de controlar a produção e distribuição da matéria-prima e de defender seu preço no mercado internacional. Um momento importante desse projeto foi a própria constituição da Opep em 1960, em resposta aos sucessivos cortes nos preços do petróleo unilateralmente realizados pelas multinacionais do setor. O cartel reunia o Irã, o Iraque, o Kuwait, a Arábia Saudita e a Venezuela, que se propunham a defender e estabilizar a estrutura de preços então existente. Aos países fundadores juntaram-se mais tarde Qatar, Indonésia, Líbia, Abu Dabi (depois integrado à União dos Estados Árabes), Argélia, Nigéria e Equador, num total de doze Estados-membros. No início dos anos 1970, esses países respondiam por mais de 60% das exportações. Além disso, os países exportadores haviam gradativamente melhorado suas posições na economia petrolífera, elevando sua margem de lucratividade, realizando nacionalizações parciais ou integrais, retendo a propriedade das reservas, impondo condições às multinacionais do petróleo. O confronto aberto com as chamadas “sete irmãs” era uma questão de tempo. Logo após o início do conflito entre árabes e israelenses, os países petrolíferos do golfo Pérsico, reunidos na Opep, decidiram aumentar unilateralmente em 17% o preço daquela matéria-prima, sem consultar as “sete irmãs”. Ao mesmo tempo, decidiram reduzir mensalmente em 5% o fornecimento aos países que apoiavam Israel no conflito, até que Israel devolvesse os territórios ocupados e fossem reconhecidos os direitos do povo palestino. O preço do barril subiu então de 3,03 para 3,65 dólares. Em fins de 1973, o preço do petróleo não refinado proveniente do golfo Pérsico era 400% superior ao cobrado no início do mesmo ano; até meados de 1975, os preços quase quintuplicaram. Os países da Opep viram suas receitas aumentar em US$ 25 bilhões em 1973 e US$ 80 bilhões em 1974. Nesse ano, o bloco dos países industrializados teve um déficit global de US$ 11,5 bilhões e os países em desenvolvimento, um déficit de US$ 39,8 bilhões. Esses aumentos provocaram o que ficou conhecido como “primeiro choque do petróleo”. O segundo “choque” viria alguns anos depois, em 1979. A guerra civil no Irã, que culminou com a derrubada do xá Reza Pahlevi, provocou a queda da produção iraniana de 6,5 milhões de barris/dia para 235 mil barris/dia, o que não atendia nem mesmo ao consumo interno daquele país. O Irã, que era o segundo maior exportador da Opep, retirava-se praticamente do mercado, para voltar mais tarde com uma produção de cerca de 2 milhões de barris/dia. Os acontecimentos verificados no Irã pressionaram no sentido da formação de estoques por parte das companhias multinacionais. Os preços atingiram então níveis recordes: o petróleo foi comercializado por até 23 dólares o barril. Em março de 1979, a Opep decidiu reajustar oficialmente os preços para 14,55 dólares o barril, cobrando sobretaxas especiais sempre que isso fosse considerado justificável diante de circunstâncias específicas. O Irã, a Líbia, a Argélia e a Nigéria, porém, elevaram os preços para 17,50 ou 18 dólares o barril, no que foram seguidos pouco depois pelos países produtores do golfo Pérsico. Em junho de 1979, numa nova reunião da Opep, decidiu-se que a Arábia Saudita — maior produtor da Opep, com reservas de 130 bilhões de barris — reajustaria seus preços para 18 dólares e os demais países, para 23,50 dólares. No início de 1980, com a crise entre Estados Unidos e Irã e o agravamento geral das tensões políticas e militares no Oriente Médio, os preços do petróleo por barril oscilavam entre os 37 dólares cobrados pela Argélia, os 34 dólares cobrados pela Nigéria e os 28 dólares cobrados pelo Iraque. Além da redução de consumo, a crise do petróleo provocou uma variedade de outras respostas, inclusive a pesquisa de fontes energéticas alternativas. Nesse sentido, além de uma retomada das pesquisas levadas a cabo na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial em torno do petróleo sintético, obtido por meio do carvão natural, procura-se aproveitar a energia solar, a nuclear e a biomassa. Esta última alternativa foi a escolhida pelo Brasil: o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), lançado em 1975, tornou-se o maior projeto de utilização da biomassa desenvolvido em todo o mundo. Com o retorno dos preços do petróleo aos seus níveis normais, o Proálcool entrou em crise, uma vez que os subsídios do governo brasileiro a este programa tornaram sua continuidade inviável. Em meados da década de 80 mais de 80% da produção de automóveis era de modelos movidos a álcool, na segunda metade dos anos 90 esta proporção havia caído drasticamente, não alcançando 5% da produção total. A partir de 2004, com a nova elevação dos preços do petróleo, a produção de carros bicombustíveis (carros flexíveis que funcionam com gasolina ou álcool) e a mistura de uma pequena percentagem de álcool na gasolina, a produção de álcool voltou a crescer, o mesmo acontecendo com os carros que usam este tipo de combustível renovável. Veja também Desvalorização do Dólar.