É o projeto de exploração da província mineral mais rica do mundo, com a participação do capital estrangeiro, estatal e das empresas privadas brasileiras. A vida útil das reservas de ferro, estimada na década de 1980, era de cerca de 500 anos. Sua regulamentação obedece aos decretos-leis nº 1.813 e nº 85.387, e a coordenação geral dos trabalhos afetos a oito ministérios — cabe ao Ministério do Planejamento. O projeto localiza-se em área de cerca de 900 mil km2 (um décimo do território brasileiro), numa região cortada pelos rios Araguaia, Tocantins e Xingu, abrangendo terras do sul do Pará (polarizadas pelo centro comercial de Marabá), de Goiás e do Maranhão. É uma área possuidora de grande potencial hidrelétrico, ampla cobertura florestal e que apresenta condições climáticas favoráveis ao reflorestamento para fins da extração de celulose e carvão vegetal. Entretanto, possui solos de baixa fertilidade, com exceção de escassas manchas de terra roxa e das terras de várzea. Em contrapartida, dispõe de fantásticas reservas minerais, descobertas em 1967 e avaliadas a partir de 1970. As jazidas de ferro são estimadas entre 18 e 20 bilhões de toneladas (sendo 66% de minério de alto teor), capazes de suportar quatrocentos anos de exploração intensa. E também existem jazidas de cobre, estanho, ouro, alumínio, manganês e níquel, passíveis de exploração com uma tecnologia relativamente simples (portanto, de baixo custo) e por uma força de trabalho de preço bastante reduzido. Tudo isso levou o Conselho Interministerial, reunido pela primeira vez em agosto de 1981, a sistematizar as políticas e os critérios a se adotar no Projeto Grande Carajás: 1) agilizar o aproveitamento dos recursos existentes nos setores mineral, florestal, energético, hidrelétrico e agrícola; 2) canalizar a produção realizada diretamente para o setor externo, sob forma de pagamento da dívida externa; 3) captar no exterior os investimentos necessários; 4) adotar medidas de cautela quanto à contaminação poluente. Para dar apoio aos diversos objetivos do projeto, construiu-se a Ferrovia Carajás (concluída em 1984) e prossegue-se com as obras da hidrelétrica de Tucuruí. Esta última localiza-se no rio Tocantins e deverá fornecer de 550 a 780 quilowatts de energia. O custo do empreendimento foi estimado em 270 bilhões de cruzeiros (moeda da época), enquanto o segundo projeto de apoio, a ferrovia Carajás, exigiu mais de US$ 1,3 bilhão. Essa ferrovia liga a mina da serra Norte, no sul do Pará, ao porto marítimo de Ponta da Madeira (São Luís do Maranhão), numa distância de 890 km. Previa-se o início de suas atividades em 1985, transportando o minério de ferro em três locomotivas. Foi o que ocorreu: naquele ano, houve um escoamento de cerca de 15 milhões de toneladas, montante que aumentou para 25 milhões de toneladas em 1986. O objetivo é alcançar 50 milhões de toneladas até o final da década de 90. Além do transporte de minério, a ferrovia deverá servir de apoio a outros programas do projeto, entre os quais a redefinição agrícola de uma superfície de 15,5 milhões de hectares. A proposta é implantar aproximadamente trezentas fazendas de 10 mil hectares; além disso, haverá uma área de 2,3 milhões de hectares só para reflorestamento, com uma produção estimada em 10 milhões de toneladas em grãos, 900 mil toneladas de borracha, 1 milhão de toneladas de pellets, 5,4 bilhões de litros de álcool e 20 milhões de metros cúbicos de madeira. Para o escoamento da produção, serão construídos silos e pontos de armazenagem e embarque, dispostos em intervalos de 100 km ao longo da ferrovia. Nesse programa, o total de investimentos exigidos será da ordem de US$ 8 bilhões. No final de 1983, o custo do Projeto Ferro- Carajás fora estimado em US$ 4 bilhões, em que mais de US$ 2 bilhões já tinham sido investidos. Conta com investimentos externos, de empresas nacionais e financiamentos advindos dos Estados Unidos, Japão, Banco Mundial e do Mercado Comum Europeu, que deverão ser pagos em minério. Quais as perspectivas do Projeto Grande Carajás? A maioria dos observadores mostra-se relativamente cética quanto a seus ambiciosos objetivos, numa conjuntura de crise econômica nacional e internacional. As poucas empresas brasileiras participantes enfrentam sérios problemas; mais ainda, as constantes idas ao exterior para obter recursos favoreceram a entrada de joint-ventures, que estendem seu controle sobre terras, reservas naturais, mão de obra barata e que introduzem tecnologia desnecessária. Além disso, exigindo efetivamente um alto grau de investimentos de capital estrangeiro, o projeto propicia um alto endividamento, que poderá contrariar o objetivo declarado, de pagamento da dívida externa com a exportação de minérios. Para se ter uma ideia, quando forem iniciadas as amortizações dos investimentos externos na hidrelétrica de Tucuruí — um componente relativamente secundário no projeto —, o Brasil pagará, só de juros, cerca de US$ 300 milhões anuais. Até o final de 1982, os projetos ainda movimentados eram o de Tucuruí, no terreno da infraestrutura, e, no setor produtivo, os do alumínio e do ferro. Estes são, inclusive, os empreendimentos prioritários no setor de minérios do Projeto Carajás. O alumínio deverá ser produzido, no Pará e no Maranhão, pela Albrás/Alunorte (ligada a uma joint-venture da Companhia Vale do Rio Doce e capitais japoneses) e pela Alcoa, de forte participação norte- americana. Mas o desenvolvimento desses projetos é lento, refletindo os problemas econômicos nacionais e internacionais. O Projeto Ferro-Carajás, por sua vez, embora também associado a capital internacional, tem uma conotação mais acelerada, na medida em que também recebe financiamento do BNDES, Finame e BNH (no segmento da infraestrutura). Nesse programa, o Estado participa com dupla atribuição: como fornecedor de infraestrutura básica e social e, por outro lado, de incentivos financeiros e tributários. Isso se reflete no ritmo das obras: no início de 1983 o Projeto Ferro-Carajás atingiu 44% de sua realização física na mina de ferro da serra Norte, 29% na construção do porto de Ponta da Madeira, em São Luís, e 44% na Ferrovia Carajás. Apesar dos atrasos, a conclusão dos trabalhos do projeto deu-se em julho de 1986. Com a expansão da demanda mundial de minério de ferro e outras commodities metálicas no início do século XXI a região tornou-se de importância estratégica para as exportações brasileiras. As exportações deste produto tornaram-se a de maior valor individual em nossa pauta de exportações a partir de 2004 quando os preços do produto se elevaram. Mesmo depois da crise econômica de 2008, a demanda da China manteve- se em expansão o mesmo acontecendo com os preços do produto. O Japão é o grande parceiro do Brasil na exploração deste projeto e em conjunto com a China é um dos grandes importadores internacionais do minério.