Em termos históricos, a senhoriagem consistia no conjunto de obrigações e deveres que o vassalo medieval devia a seu suserano ou senhor. Uma modalidade especial de senhoriagem era a taxa ou renda paga ao rei pelo nobre feudal para receber a concessão de cunhar moedas em seu domínio. Em termos mais específicos, isto é, quando relacionada com a emissão de moeda, a senhoriagem é a receita obtida por aqueles que têm o poder de emitir, decorrente da diferença entre o valor de face da moeda e seu custo de produção, que inclui o valor do metal correspondente (ouro, prata, bronze etc.) e o trabalho de cunhagem propriamente dito. Nos períodos históricos em que o valor de face da moeda correspondia ao seu conteúdo material em metal, a senhoriagem abarcava apenas os custos de cunhagem (nesse caso, denominava-se braceagem), que até o século XVII eram relativamente elevados. À medida que o valor de face da moeda foi se distanciando do valor de seu conteúdo material, a renda da senhoriagem foi crescendo, pois ela era apropriada por quem detinha o poder ou o privilégio de emitir. Reis e príncipes abusaram desse meio para reforçar as finanças públicas, isto é, suas próprias finanças. Com o aparecimento do papel-moeda em substituição às moedas metálicas, tal diferença aumentou ainda mais. Ou seja, as autoridades emissoras podiam obter como receita de senhoriagem o total do valor de face do papel-moeda emitido menos os custos da emissão (impressão) desse papel-moeda. A substituição da moeda metálica por papel-moeda permitiu também um enorme ganho social, na medida em que se operou a substituição de uma moeda (ouro, prata etc.) por outra (papel-moeda), com um custo de produção sensivelmente mais baixo. No sistema monetário internacional, o ouro ainda representa uma parcela considerável das reservas, alcançando atualmente cerca de 30% do total. No passado, essa proporção foi ainda maior, especialmente quando ainda vigorava o padrão-ouro nas transações internacionais e internas dos países mais desenvolvidos. O lento crescimento da produção de ouro e a existência de enormes ganhos sociais de senhoriagem, se o metal fosse substituído por moedas fortes como o dólar ou a libra naquele momento, ou mais tarde, com os Direitos Especiais de Saque, levaram à substituição do padrão-ouro pelo padrão-câmbio-ouro depois da Primeira Guerra Mundial. Dessa forma, as reservas mundiais passaram a conter parcelas crescentes de moedas fortes como o dólar, e as taxas de câmbio passaram a ter também no dólar seu referencial básico de fixação. Posteriormente (em 1969), com a criação dos Direitos Especiais de Saque, essa substituição se ampliou, e a Segunda Emenda à Carta do Fundo Monetário Internacional, aprovada em 1978, recomendou o prosseguimento dessa medida. No entanto, pouco se avançou nesse sentido, uma vez que a instabilidade da libra e, especialmente, do dólar, tornou inconveniente para os demais países a manutenção de suas reservas por um período longo numa moeda cujo valor dependia da confiança cada vez menor depositada nos governos responsáveis por sua emissão. Do ponto de vista interno de cada país, onde a moeda é fiduciária, o recurso à emissão de papel-moeda é uma forma de obter receita para o Tesouro por meio da senhoriagem, embora provocando impactos inflacionários imediatos. Essa forma de obtenção de recursos constitui um imposto (inflacionário) de fácil e barata cobrança, o que tem levado muitos governos a apelar para a sua utilização, especialmente nos países latino-americanos nas últimas décadas. No entanto, quando ocorre uma estabilização de preços depois de um período de inflação acelerada ou mesmo de hiperinflação, a emissão de papel-moeda e os ganhos da senhoriagem correspondentes podem ser efetuados sem causar elevação de preços, desde que a emissão ocorra na mesma proporção em que diminui a velocidade de circulação da moeda. Esse processo ocorreu na Alemanha depois da estabilização de preços que interrompeu a hiperinflação no final de 1923 e no Brasil durante o curto período de estabilidade de preços e redução da velocidade de circulação da moeda durante o Plano Cruzado, em 1986. Veja também Braceagem; Cunhagem; Direitos Especiais de Saque; Feudalismo; Meio Circulante; Moeda Fiduciária; Padrão-câmbio-ouro; Padrão-Ouro; Token Money.