Conjunto de doutrinas e movimentos políticos voltados para os interesses dos trabalhadores, tendo como objetivo uma sociedade onde não exista a propriedade privada dos meios de produção. Pretende eliminar as diferenças entre as classes sociais e planificar a economia, para obter uma distribuição racional e justa da riqueza social. Em geral, apresentam-se como partidários do socialismo partidos e organizações comunistas, social-democratas, socialistas e trabalhistas, além de agrupamentos libertários e igualitários de tendência anarquista e, mais recentemente, algumas correntes de diversos movimentos sociais e de minorias. O socialismo estendeu-se também após a Segunda Guerra Mundial aos movimentos de libertação nacional (mesclando-se nesse caso com o nacionalismo) e à luta de vários povos contra a ditadura e o autoritarismo. Dessa diversidade de inspirações e matizes ideológicos resultam profundas divergências quanto aos métodos de construção da nova sociedade, o papel dos partidos políticos, a função do Estado e a questão da democracia no plano político e no econômico. Em certa medida, a noção de socialismo confunde-se com a de comunismo, embora, modernamente, haja profundas diferenças de teoria e prática entre os dois movimentos. A ideia de comunismo remonta à Antiguidade grega e ressurge em movimentos sociais de inspiração religiosa que marcaram a crise da sociedade feudal e o surgimento da Idade Moderna. O socialismo, por sua vez, é típico da sociedade pós-Revolução Industrial, ligando-se às primeiras manifestações da classe operária e de artesãos contra as injustiças sociais advindas da consolidação do modo de produção capitalista. O termo “socialismo” foi empregado pela primeira vez em 1827, no jornal de Robert Owen Cooperative Magazine. Na época, foi utilizado como sinônimo de cooperação, democracia radical e também de comunismo. O pensamento socialista, nas suas origens, ligava-se fundamentalmente às ideias e propostas de reforma social de Owen, Saint-Simon e Fourier, que Karl Marx e Friedrich Engels chamaram de socialistas utópicos. Para se diferenciarem desse socialismo, Marx e Engels se posicionavam como comunistas; ao mesmo tempo, consideravam-se fundadores do socialismo científico: partiam de um aprofundado estudo das relações capitalistas de produção, para propor sua eliminação por meio da ação revolucionária dos trabalhadores, aglutinados em torno da Internacional Socialista, criada por ambos em Londres, em 1864. Participavam dessa I Internacional as mais diversas correntes do movimento socialista e operário. O debate ideológico que se travou nessa organização posicionou como rivais os adeptos de Karl Marx e os partidários de Joseph Proudhon. Estes negavam a ação política da classe operária e propunham uma alteração da sociedade a partir da criação de uma rede de cooperativas de produção geridas pelos trabalhadores, sistema que terminaria suplantando o próprio capitalismo e o Estado. Presente em todos os movimentos reivindicatórios da classe operária, o socialismo teve, no século XIX, como feito histórico mais significativo a instauração revolucionária da Comuna de Paris (1871), onde tiveram destaque os seguidores de August Blanqui. Após a liquidação da Comuna, o movimento socialista esteve vinculado à ação da Internacional, onde se dividiam os marxistas e os anarquistas liderados por Bakunin. A criação de partidos socialistas na Europa (o primeiro foi o alemão, em 1875) relacionou a luta pelo socialismo, fundamentalmente, aos adeptos de Marx, organizados a partir de 1889 na II Internacional. Questões de estratégia e tática socialista e a polêmica em torno da participação na Primeira Guerra Mundial conduziram o movimento socialista marxista a uma cisão: de um lado os seguidores do revisionismo, que defendiam a construção do socialismo por meio de reformas sociais e cujos principais representantes foram Eduard Bernstein e Karl Kautski; de outro, os adeptos de Lênin e Rosa Luxemburgo, defensores da revolução e da ditadura do proletariado como momentos necessários para a construção do socialismo. Essa divisão marcou as duas tendências fundamentais do socialismo na atualidade, alargando-se a distância entre ambas, sobretudo após a Revolução de Outubro de 1917, que implantou o socialismo na Rússia. A tendência revisionista ou reformista desligou-se do pensamento de Marx, sendo hoje representada pelos partidos socialistas, social-democratas e trabalhistas da Europa e outras partes do mundo, ao passo que o pensamento socialista de tradição marxista está oficialmente representado pelos partidos comunistas (cada vez mais enfraquecidos) e, secundariamente, por organizações de inspiração trotskista. Ao mesmo tempo, o chamado socialismo real (a sociedade nos moldes das existentes na ex-União Soviética, em países da Europa Oriental até os anos 90, na China — cada vez mais aceitando a economia de mercado —, na Coreia do Norte, e em Cuba) está sendo submetido a rigorosa crítica pelas novas correntes do pensamento socialista (muitas delas baseadas em Marx), que procuram recuperar a tradição democrática do socialismo, no que diz respeito à função do Estado, dos partidos políticos, suas relações com os trabalhadores e a gestão da economia. Veja também Anarquismo; Comunismo; Internacional Socialista; Marxismo; Social-democracia.