A taxa natural de desemprego constitui um dos pontos centrais da controvérsia entre Milton Friedman e os defensores de uma abordagem keynesiana. Até que ponto a política econômica intervencionista de caráter keynesiano é eficaz em estimular o aumento da produção e do nível de emprego sem gerar inflação? Friedman argumenta que existe uma taxa natural de desemprego definida por características e traços institucionais do mercado de trabalho tais como legislação e atuação de sindicatos. Esta taxa de desemprego traduz um nível de longo prazo de desocupação do fator trabalho no qual está inserido o desemprego voluntário, isto é, trabalhadores que não aceitam trabalhar pelo nível de salários existentes nos empregos oferecidos. Embora seja uma taxa de desemprego de caráter estrutural, não se trata de uma constante. Mudanças nas legislações trabalhistas e na produtividade do trabalho modificam o nível da Taxa Natural de Desemprego. Por exemplo, argumentos em favor de mais desregulamentação no mercado de trabalho do tipo “o negociado deve prevalecer sobre o legislado” identificam que parte do desemprego deve-se à restrições institucionais que se fossem levantadas reduziriam a taxa de desemprego. Para Friedman a política econômica não conseguiria reduzir a taxa corrente de desemprego para baixo da taxa natural. As razões são as seguintes: uma elevação do estoque de moeda em circulação resultante de uma decisão do Banco Central para estimular a economia significa geralmente um excesso de moeda em relação à demanda. Os agentes expandirão seus gastos, o que implica um maior volume de despesas na economia, isto é, uma maior demanda agregada. Como a oferta agregada se expande de forma mais lenta do que a demanda, a disputa pelos bens e serviços disponíveis ocasiona uma elevação no nível geral de preços. Percebendo este ciclo de expansão econômica, os empresários vão ao mercado adquirir fatores e oferecem aos trabalhadores mais postos de trabalho. Os trabalhadores, por sua vez, adotam o cálculo racional anteriormente apontado, comparando a insatisfação do trabalho com o bem-estar oriundo do salário real. Dado que os empresários estão disputando os trabalhadores, os salários monetários oferecidos por aqueles vão se elevando ao longo do tempo. Os trabalhadores têm uma expectativa para a inflação futura determinada pela inflação vivida no passado (expectativas adaptativas). Como os trabalhadores não percebem o aumento do estoque de moeda nem preveem a elevação da taxa de inflação, supõem que maiores salários monetários significam também maior poder de compra, ou seja, maiores salários reais. Diante disso, os trabalhadores consideram que o incremento no salário real compensa a insatisfação de trabalhar e resolvem aceitar as ofertas de trabalho feitas pelos empresários. Consequentemente, uma elevação da inflação aumenta o nível de emprego levando a taxa corrente de desemprego a ficar menor do que a taxa natural. Contudo, os trabalhadores sofreram uma ilusão monetária. Aceitaram as ofertas de trabalho, pois acreditaram que salários monetários mais elevados resultariam em maior poder de compra. Não perceberam que a elevação da inflação acabará por neutralizar os salários monetários maiores e que o salário real não aumentará. Porém, quando forem transformar seus salários monetários em bens e serviços, perceberão seu erro e imediatamente entenderão que a insatisfação do trabalho é novamente superior à satisfação do salário real, revendo, então, sua decisão de trabalhar. A taxa de desemprego corrente volta a subir igualando a taxa natural de desemprego. Conclusão de Friedman: a política monetária expansionista não consegue diminuir permanentemente a taxa de desemprego corrente, deixando-a abaixo da taxa natural. Se o Banco Central mantiver a política monetária expansionista apenas conseguirá reduções momentâneas da taxa de desemprego ao mesmo tempo que estará criando nos agentes expectativas inflacionárias cada vez maiores. Para Friedman os agentes formam suas expectativas de inflação segundo sua vivência passada. Assim sendo, uma política monetária expansionista não apenas fracassaria em reduzir o desemprego como resultaria em pressões inflacionárias crescentes. É uma conclusão diametralmente oposta daquela decorrente da proposta keynesiana. Em primeiro lugar, para esta última o desemprego é fundamentalmente do tipo involuntário. Ou seja, mesmo que a satisfação decorrente dos salários reais seja inferior à insatisfação de trabalhar, os agentes buscam emprego, mas não os encontram. Isso não ocorre no argumento de Friedman. Em segundo lugar, a política econômica tem mecanismos, no modelo keynesiano, para manter permanentemente baixa a taxa de desemprego logrando manter a economia no (ou próxima do) pleno emprego. Para Friedman isso não seria possível, como acabamos de ver, uma vez que o desemprego é de natureza voluntária, e no longo prazo o desemprego tenderia a situar-se em torno de sua taxa natural e não abaixo dela. Veja também Expectativas Adaptativas; Friedman, Milton; Keynes, John Maynard.