Quesnay nasceu no seio de uma família de origem humilde. Seu pai era um pequeno comerciante e também proprietário de uma pequena fazenda na região de Mére (Seine- et-Oise), o que permitia à família uma vida remediada. Não recebeu educação formal, mas desde cedo se interessou pela medicina e aos 18 anos foi enviado a Paris para estudar. Em 1717, se casou com Jeanne- Cathérine Dauphin, com quem teve quatro filhos, mas apenas dois sobreviveram. Começou a trabalhar como médico em Mantes, um lugarejo próximo de Paris, e lá desenvolveu sua reputação como cirurgião, especialmente desenvolvendo técnicas para cuidar de hemorragias. Talvez os conhecimentos desenvolvidos no século anterior por Harvey sobre a circulação do sangue e assimilados por ele durante seus estudos o tivessem inspirado mais tarde na formulação do Tableau Economique ou no mecanismo pelo qual as riquezas circulavam na economia. Em 1736, publicou seu primeiro ensaio importante “L’Éssai physique sur l’economie animale”. Sendo médico do duque de Villeroy e da condessa d’Éstrades, ele conheceu Madame de Pompadour, a favorita de Luís XV. Quesnay tornou-se seu médico particular (e também seu amante), estabelecendo-se em Versalhes. Em 1752, salvou o delfim de sarampo, e como recompensa o rei lhe concedeu um título de nobre e uma soma em dinheiro, a qual foi utilizada para a compra de uma fazenda para seu filho. Entre 1750 e 1751, Quesnay publicou seus últimos trabalhos sobre medicina e tornou-se membro da Academia Francesa de Ciências e da Royal Society de Londres. Durante os anos 1750, Quesnay tornou-se interessado em assuntos econômicos e em particular em questões agrícolas. Seus contatos com Diderot, D’Alambert e Condillac o levaram a ser convidado a escrever na Encyclopedie. Como a Encyclopedia tivesse sido condenada pelo governo, Quesnay escreveu sob pseudônimo dois verbetes: “Fazendeiros” (1756) e “Cereais” (1757). Escreveu mais três verbetes “Homens”, “Impostos” e “Juros do Dinheiro”. Mas não foram publicados, a não ser muito tempo depois (no início do século XX), pois os inimigos da Encyclopedie o ameaçaram de perda de seus títulos reais. O ano de 1757 foi muito importante, pois Quesnay conheceu Victor Riquetti, o marquês de Mirabeau. Mirabeau vinha de uma família de nobres e sustentava que a principal causa da riqueza de uma nação era sua população. Quesnay convenceu-o de que a agricultura era mais importante por ser ela a única que garantia o sustento dessa população. Mirabeau aderiu a essa ideia e tornou-se o principal divulgador das concepções de Quesnay. Esse encontro marca o início da Fisiocracia. Para os fisiocratas, a economia nada teria a ver com questões morais e seria independente do processo histórico humano. Consideravam direitos naturais o direito à vida com liberdade e o direito à propriedade sem restrições. Para Quesnay, toda riqueza se extrai da natureza e a agricultura é a única atividade geradora de um excedente, um produto líquido (produit net) que se distribui entre as diferentes classes sociais, sendo a classe dos agricultores considerada a única produtiva. A indústria apenas transforma os produtos, reúne valores já existentes, e o comércio é também uma atividade estéril, que nada produz. Para Quesnay, a vida econômica, tal como esquematizou no Tableau, obedece a leis naturais que devem ser respeitadas pelos governantes (direito à propriedade e a seus frutos, à liberdade de ação segundo o próprio interesse). O Estado, portanto, não deve intervir no processo econômico. Além de provar de forma lógica e sistemática a interdependência dos fatos econômicos e revelar o mecanismo da circulação e reprodução dos bens, o esquema de Quesnay mostra como a atividade econômica depende da iniciativa dos detentores de capitais e enfatiza a importância da manutenção do poder de compra dos assalariados (mas sem ultrapassar um nível em que eles se tornem “preguiçosos e arrogantes”). Líder dos fisiocratas, Quesnay exerceu grande influência sobre seus contemporâneos e constituiu de certa forma o ponto de partida para Adam Smith, embora criticado por este. A Influência dos fisiocratas sobre a política governamental – Em 1758 Quesnay publica um ensaio “Questões interessantes sobre a população, a agricultura e o comércio” e no final do mesmo ano lança a primeira edição do célebre Tableau Economique (Quadro Econômico). Alguns anos mais tarde os fisiocratas já participavam ativamente nos debates econômicos. A fisiocracia ganhava novos adeptos: Du Pont de Nemours, Mercier de la Riviere e Turgot. Este último chegou a ser ministro das Finanças de Luís XVI. Mas não durou muito, pois suas propostas tributárias — lógicas de acordo com a doutrina fisiocrata — contrariavam interesses da poderosa aristocracia proprietária. O sistema tributário na França na época era tão complexo como ineficiente. Em primeiro lugar, Turgot buscou eliminar as taxas que incidiam sobre os produtos agrícolas que eram transportados de uma província para outra. E também sobre aquelas que incidiam sobre as comunidades na forma de “capitação”, isto é, pagava-se tributo de acordo com o número de pessoas de cada família. O mais importante, no entanto, eram os impostos pagos na forma da “talha” à Coroa e o “dízimo” à Igreja. Estes impostos incidiam sobre os rendimentos dos agricultores. A Coroa não os coletava diretamente, vendendo os direitos de cobrança aos ricos e poderosos proprietários locais. Os fisiocratas combatiam este sistema denominado “ferme general”, pois seus titulares, os “fermiers generaux” tendo pago adiantado à Coroa o direito de cobrar impostos, extorquiam dos agricultores muito mais. Faziam da cobrança de impostos um lucrativo negócio. O resultado era um desestímulo à agricultura, pois os produtores eram prejudicados pelos elevados tributos e pelos baixos preços dos produtos agrícolas no mercado interno. Além disso, a Coroa recebia muito menos do que deveria uma vez que parte da tributação terminava nos bolsos dos setores mais ricos da sociedade francesa. A baixa produtividade da agricultura — se comparada, por exemplo, à agricultura inglesa — e o desestímulo ao aumento da produção levavam os fisiocratas a concluírem que a agricultura era incapaz de manter uma população crescente. Turgot tentou eliminar os entraves mercantilistas que dificultavam a circulação de mercadorias agrícolas e mudar a estrutura tributária, gerando mais recursos para a Coroa e reduzindo os enormes déficits com os quais esta operava. Mas sua permanência no Ministério das Finanças teve curta duração: de julho de 1774 até maio de 1776. Pouco tempo depois da queda de Turgot, as reformas introduzidas por ele foram revertidas e a influência das ideias dos fisiocratas sobre a política econômica, ao contrário das propostas mercantilistas, praticamente desapareceram. Veja também Fisiocratas; Tableau Economique.