Conjunto das transformações políticas, sociais e econômicas que determinam a substituição da sociedade capitalista pela sociedade socialista. Implica, em tese, a instauração de uma nova ordem social baseada na propriedade coletiva dos meios de produção e, consequentemente, uma nova organização da economia, um novo ordenamento das classes sociais e uma completa reformulação na estrutura jurídica, política e ideológica da sociedade. Além disso, o conteúdo dessas transformações relaciona-se com os interesses dos trabalhadores da cidade e do campo, que formam o contingente mais numeroso da população. Embora a tradição revolucionária socialista remonte às propostas de Babeuf, nos últimos momentos da Revolução Francesa, modernamente o pensamento teórico e a prática objetivando a Revolução Socialista ligam-se fundamentalmente à obra de Karl Marx e Friedrich Engels e aos seus seguidores — Lênin, Trótski e Mao Tsé-tung. Na tradição marxista, a revolução decorre da própria natureza do modo de produção capitalista e das contradições por ele engendradas, mas não se trata de um processo fatalista, resultando também da ação política da classe operária contra a burguesia, classe dominante na sociedade capitalista. Nesse sentido, o ato revolucionário se define e se legitima como uma ação histórica ligada aos interesses da maioria, oprimida pelas relações burguesas de produção e pelo estado que lhe é inerente. Em seu primeiro momento, a Revolução Socialista manifesta-se como um ato político, a conquista do poder do Estado, o qual detém o monopólio da força. Com esse feito, o proletariado organizado como sujeito ativo e consciente destrói a máquina estatal da burguesia e instaura a ditadura do proletariado, que lhe assegura a expropriação da propriedade burguesa e reprime seu inimigo de classe. Apesar de seu conteúdo classista, a ditadura do proletariado historicamente não é capaz de superar a totalidade das contradições econômicas herdadas da sociedade capitalista. Terá também seus estigmas. Nela continuará existindo o mercado, a produção para o mercado, a lei do valor e as trocas, elementos que não desaparecerão simplesmente por vontade da direção revolucionária. Como afirma Henry Lefèvre, a respeito do desenvolvimento da nova sociedade, o direito dos produtores (trabalhadores) será ainda proporcional ao trabalho fornecido em quantidade e qualidade. A igualdade propugnada pela revolução consistirá apenas em que o trabalho será, consciente e racionalmente, função da medida comum das trocas, e não o dinheiro. E essa situação de desigualdade só será superada nas condições da sociedade comunista (etapa superior), quando o lema será de cada um de acordo com sua capacidade e a cada um de acordo com suas necessidades. Partindo de uma análise do desenvolvimento capitalista de sua época e do nível de luta e organização dos operários na Inglaterra, França e Alemanha, Marx e Engels chegaram à conclusão de que o assalto ao poder da burguesia pelo proletariado, organizado num partido revolucionário, dar-se-ia primeiramente nessas nações. A revolução europeia, sonhada por eles, seria nacional, porque se daria nos marcos de determinado país, mas ao mesmo tempo teria um conteúdo internacional, fenômeno derivado da própria natureza do capitalismo, o qual rompera com todos os particularismos locais e nacionais. Foi somente com o declínio das divergências revolucionárias na Europa Ocidental, por volta de 1880, que Marx e Engels voltaram suas atenções para a Rússia, agitada pela ação dos narodniks. Mas, para eles, a vitória plena da revolução socialista nesse país dependia do fim do capitalismo nos países mais adiantados. Após a morte de Marx e de Engels, o capitalismo passou por profundas transformações, entrando em sua fase monopolista ou imperialista. Expandiu-se em escala mundial e subjugou aos seus interesses numerosas formações sociais pré-capitalistas. Nessas condições, a teoria da revolução socialista foi desenvolvida particularmente por Lênin. Para ele, a ação revolucionária se desenvolveria naqueles países onde as contradições imperialistas fossem mais agudas. E nesse sentido teorizou fundamentalmente a partir da situação concreta da Rússia, submetida a um regime autocrático. Mas mesmo Lênin admitiu, e com ele Trótski, que a revolução na Rússia seria apenas um estopim para o desenvolvimento da revolução na Europa Ocidental. Em decorrência de seu atraso econômico, a Rússia não tinha condições de empreender as transformações inerentes à construção do socialismo. Com Stálin e a situação de isolamento da Rússia pós-revolução, a perspectiva de uma revolução continental europeia deu lugar à teoria do socialismo num só país. Ironicamente, desde o Manifesto Comunista, de 1848, a revolução nos países adiantados não ocorreu. Seu palco de ação foram fundamentalmente países de limitado desenvolvimento capitalista ou nações de tradição colonial (Rússia, China, Mongólia, Vietnã, Cuba, Angola, Moçambique e Nicarágua). A revolução nesses países (alcançada pela violência armada das massas) colocou-se não como uma consequência do desenvolvimento das forças produtivas criadas pelo capitalismo, mas, fundamentalmente, como uma forma de superação do subdesenvolvimento, da opressão nacional e da miséria impostos pelo capitalismo monopolista internacional. Veja também Capitalismo; Comunismo; Marxismo; Socialismo.