Trata-se de um sistema econômico no qual os meios de produção são propriedade pública ou coletiva, mas a alocação de recursos segue as regras do mercado, existindo um mercado de força de trabalho, de produtos e de elementos que materializam o capital. Em relação às economias socialistas “reais”, o termo se aplica tanto àquelas que haviam transformado sua estrutura no sentido de restabelecer o mercado como a Iugoslávia, no início dos anos 50 — quanto àquelas que substituíram o planejamento central e a distribuição de meios de produção por controles financeiros e incentivos, como no caso da Hungria depois de 1968. É claro que com as transformações no leste europeu depois de 1989, essa discussão ganhou um novo perfil até certo ponto contraditório: por um lado, as primeiras discussões a respeito do tema foram recuperadas, mas, por outro, a negação, em muitos países, da existência do próprio sistema econômico socialista torna a discussão até certo ponto redundante. Os debates teóricos sobre essa questão tiveram início relativamente cedo, com a publicação de um artigo de Ludwig von Mises em 1920, mostrando a impossibilidade do cálculo econômico no socialismo, uma vez que um sistema de preços (reflexos das relações de troca) somente poderia ocorrer se existisse a propriedade privada. Esse texto foi reeditado em 1935 por Hayek e, logo em seguida, refutado por Oskar Lange. A argumentação de Lange é que por intermédio de um sistema de “tentativa e erro”, uma Junta Central de Planejamento poderia substituir o mercado, fixando preços, salários, taxas de juros, de tal forma a nivelar a oferta e a demanda, e orientando os administradores das empresas socialistas a seguir duas regras: 1) minimizar o custo médio de produção, usando uma combinação de fatores que igualasse a produtividade marginal do valor das unidades monetárias disponíveis; e 2) determinar a escala de produção no ponto em que o custo marginal fosse equivalente ao preço fixado pelo Planejamento Central. (Essa organização da economia permitiria combinar a eficiência na alocação de fatores, viabilizada pela competição, e o bem-estar, conseguido pela maximização da renda.) Uma economia desse tipo estaria aberta às inovações tecnológicas sem provocar flutuações cíclicas (do tipo schumpeteriano). O maior perigo — a burocratização da vida econômica não seria maior, afirmavam seus defensores, do que a existente no capitalismo monopolista. As críticas às formulações de Lange vieram tanto daqueles que questionavam a componente socialista numa economia de mercado quanto daqueles que questionavam a componente de mercado numa economia socialista. Hayek, por exemplo, em 1940, considerava inverossímil a criação de fundamentos motivacionais e informativos para um comportamento gerencial de mercado, sem a existência de propriedade privada que proporciona os estímulos necessários (expectativa de ganhos) e restrições (responsabilidade financeira) para decisões inovadoras que envolvam riscos. Schumpeter contestava a relevância desse argumento, dizendo que na economia capitalista a propriedade e a gerência das empresas também se encontravam separadas entre acionistas e gerentes. O outro tipo de crítica acentuava a característica de equilíbrio estático apresentada pelo modelo, o que poderia comprometer a dinâmica do desenvolvimento a médio e longo prazos, trazendo grande instabilidade e crises para a economia, o que somente poderia ser sanado pela existência de um planejamento centralizado direto. Lange admitiu a necessidade de rever seu modelo em função da dinâmica econômica a longo prazo. Quanto aos argumentos de Hayek, não chamaram muito a atenção até recentemente, quando as dificuldades reveladas de desenvolvimento da produção e da produtividade nos países do bloco socialista e as transformações na ex-União Soviética (especialmente a Perestroika) colocaram outra vez tal questão na ordem do dia. Veja também Hayek, Friedrich August von; Lange, Oskar; Mises, Ludwig von; Perestroika; Planificação; Socialismo.