Programa de uso pacífico da energia nuclear iniciado pelo governo brasileiro no início da década de 70. O projeto foi acelerado a partir da crise do petróleo de 1972-1973 e sua urgência justificada pela necessidade de garantir, no futuro, um suprimento de energia seguro e constante, livre de dependências externas. Desde o início, o programa foi criticado por parte expressiva da comunidade científica, que pôs em dúvida a oportunidade de nuclearizar um país que dispõe de um potencial avaliado em 200 milhões de quilowatts de energia hidrelétrica. O programa começou em 1969, quando o encargo de construir a primeira usina nuclear foi confiado a Centrais Elétricas de Furnas S.A., empresa de economia mista, subsidiária da Eletrobrás, e responsável pela produção e transmissão de energia elétrica na região Sudeste e no sul da região Centro-Oeste (onde vive metade da população brasileira e são consumidos mais de 70% de toda a produção de energia do país). A concorrência internacional para a construção, fornecimento de equipamentos e montagem da usina (Angra I, em Angra dos Reis, Rio de Janeiro), foi vencida pela firma norte-americana Westinghouse, associada à Empresa Brasileira de Engenharia (EBE). Em junho de 1974, quando as obras de Angra I já estavam em andamento, o governo federal decidiu ampliar o projeto, autorizando Furnas a construir uma segunda usina. Um ano depois, decidiu-se acrescentar uma terceira unidade ao sistema. Para a construção de Angra II e III optou-se pela aquisição de equipamento na Alemanha. Em 27 de junho de 1975, Brasil e Alemanha assinaram em Bonn o Acordo sobre a Cooperação no Campo dos Usos Pacíficos da Energia Nuclear (o chamado Acordo Atômico), pelo qual o Brasil compraria da Alemanha quatro usinas nucleares e obteria toda a tecnologia necessária a seu desenvolvimento e à construção de mais quatro usinas no próprio país, com a progressiva nacionalização dos equipamentos. O Brasil já mantinha com a Alemanha um programa de cooperação nuclear baseado no Acordo Geral sobre Cooperação nos Setores de Pesquisa Científica e do Desenvolvimento Tecnológico, de 1969. Em 1976, era efetivada em Frankfurt a compra das usinas Angra II e III. As usinas deveriam ser do tipo Pressurized Water Reactor (PWR), que utiliza como combustível o urânio enriquecido a 3%, tendo como refrigerador e moderador a água leve pressurizada. Em 5/3/1982, com um atraso de cinco anos e em meio a grande controvérsia, provocada por deficiências apontadas no sistema de segurança da usina, Angra I entrou em funcionamento. Defeitos no gerador de vapor provocaram o desligamento do reator da central nuclear no início de junho, e a usina só foi religada em 1983. Angra II e III, que deveriam entrar em funcionamento em 1988 e 1990, tiveram o ritmo de suas obras desacelerado devido à escassez de recursos. As usinas de Iguape I e II, no litoral de São Paulo, também tiveram o início de sua construção adiado por tempo indeterminado. Os custos da implantação do programa nuclear brasileiro superaram em muito as previsões iniciais, que eram de US$ 1,5 bilhão em 1975. Só o custo de Angra I, calculado inicialmente em US$ 300 milhões, atingiu US$ 1,3 bilhão. Angra I e II já estão em funcionamento, esta última inaugurada em abril de 2000 e produzindo energia elétrica que abastece o sistema nacional de energia e especialmente os estados do Sudeste. Em março de 2009 a Eletronuclear recebeu autorização recebeu do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) a licença de instalação definitiva, que permite o início das obras em Angra dos Reis (RJ) da Usina Nuclear Angra III. Quando estiver concluída, Angra 3 terá capacidade para gerar 1.350 megawatts (MW). O governo estima que investirá R$ 7,3 bilhões na obra. As três usinas produzirão cerca de 3.400 megawatts. A energia elétrica originada nas usinas nucleares apresentam três grandes problemas que ainda não foram resolvidos de forma satisfatória: a) As licenças ambientais especialmente no que diz respeito à localização e disposição definitiva dos rejeitos; b) o domínio das tecnologias e equipamentos necessários para o enriquecimento do urânio e jazidas do minério que garantam a independência em relação a fornecedores, e c) o custo por kw em geral bem superior ao custo de produção de energia por outras fontes especialmente a hidrelétrica. O Brasil dispõe de minas e já enriquece urânio em território nacional, na unidade das Indústrias Nucleares do Brasil (INB) em Resende ( RJ). Mas só a partir de 2014 a INB deverá alcançar a capacidade de atender à demanda de todo o parque nuclear, incluindo a futura usina Angra III e as outras seis em planejamento até 2030. Isto significa que temos apenas o item b resolvido. Os demais ainda estão à espera de solução. Veja também INB-Indústrias Nucleares do Brasil.