Doutrina que defende a abolição da propriedade privada dos meios de produção, a distribuição igualitária dos bens produzidos pela sociedade e que a organização da riqueza social seja feita pela própria comunidade de produtores. Propõe ainda a extinção do Estado, o autogoverno da coletividade e o fim das classes sociais. As primeiras formas de organização humana são classificadas como modalidades de comunismo primitivo. Nelas não havia diferenciação social e a existência do grupo baseava-se na cooperação entre todos os indivíduos, que gozavam dos mesmos direitos e deveres. Não havendo Estado ou hierarquia social rígida, essas organizações sociais sustentavam-se não na sujeição de alguns indivíduos a outros, mas na responsabilidade de todos perante a comunidade. No pensamento social moderno, o comunismo apresenta-se como sistema econômico a ser implantado em lugar do capitalismo, a partir da destruição deste por uma revolução social conduzida pelos trabalhadores. Ideias comunistas, no entanto, já aparecem na Antiguidade. Na obra A República, Platão descreve uma sociedade ideal cuja camada dirigente obedece a normas comunitárias de vida, embora o mesmo não ocorra com as camadas inferiores e os escravos. Na Idade Média, as heresias que se propagavam entre alguns setores do baixo clero e entre os camponeses estavam comumente impregnadas de aspirações igualitárias. A partir do Renascimento, com as mudanças trazidas pela desagregação da economia do feudalismo e pela Revolução Comercial, alguns autores idealizaram sociedades comunistas, como as descritas nas obras Utopia, de Thomas Morus, e A Cidade do Sol, de Tommaso Campanella. Com a consolidação do modo de produção capitalista, no decorrer da Revolução Industrial, o sonho de uma sociedade comunista tornou-se mais frequente. As condições desumanas de vida a que foi lançado o nascente proletariado geraram severas condenações à propriedade capitalista, revoltas operárias e propostas de reforma social. Robert Owen, na segunda década do século XIX, propôs aos trabalhadores e artesãos ingleses a criação de uma sociedade alternativa baseada nas cooperativas industriais e agrícolas. À medida que o capitalismo se impunha, cresciam as associações secretas, seitas e sindicatos, que se insurgiam contra as novas relações de produção. Na França, as ideias reformadoras de Charles Fourier e Saint-Simon tiveram grande repercussão entre os trabalhadores. Ambos, ao lado de Robert Owen, seriam mais tarde chamados por Marx de socialistas utópicos, pois pretendiam resolver os problemas dos trabalhadores sem intervir diretamente nas relações entre as classes, isto é, sem procurar desenvolver o antagonismo entre a burguesia e o proletariado. Manifestações e revoltas operárias eclodiram na Inglaterra (o movimento cartista), na França (rebeliões em Lyon e Paris) e na Alemanha, em toda a primeira metade do século XIX. Na França, até os acontecimentos da Comuna de Paris (1871), o movimento insurrecional de tendência comunista esteve ligado basicamente às ideias de Auguste Blanqui, partidário dos métodos conspirativos de François Babeuf (Gracchus). Novas abordagens da questão social na sociedade capitalista surgiram a partir de 1848, após os levantes operários na França e na Alemanha. Então, as ideias dos socialistas utópicos perdiam influência e duas tendências passavam a disputar a hegemonia dos movimentos comunista e operário: os partidários de Karl Marx e Friedrich Engels (fundadores do socialismo científico) e os partidários de Joseph Proudhon, um dos pioneiros do anarquismo. Em seu Manifesto Comunista (1848), Marx e Engels submeteram a uma crítica rigorosa as relações sociais capitalistas e sustentaram que, intensificando a luta de classes, os trabalhadores poderiam destruir a dominação da burguesia e construir a sociedade comunista. Para eles, ao desenvolver enormemente as forças produtivas nos mercados nacionais e internacionais e ao concentrar cada vez mais a riqueza social, o capitalismo criava as condições de sua própria superação. Por isso, ambos se insurgiam contra as propostas dos socialistas utópicos e afirmavam que a libertação dos trabalhadores deveria ser obra dos próprios trabalhadores. Derrotando pela força a burguesia e apossando-se do poder do Estado, os operários expropriariam os capitalistas e coletivizariam todos os meios de produção e de distribuição de bens. Os dois pensadores pouco se detiveram sobre as características e as formas de organização da futura sociedade da abundância, onde o trabalho deixaria de ser um sacrifício na qualidade de trabalho alienado e iria se tornar um prazer para todos os membros da sociedade, porque seria um trabalho livre e consciente. Ao mesmo tempo, cada pessoa receberia da sociedade o suficiente para satisfazer suas necessidades físicas e culturais. Com o desaparecimento das classes sociais, o Estado perderia suas funções, que seriam gradativamente absorvidas pela sociedade civil. O desaparecimento do Estado era também uma tese central dos anarquistas, principais adversários de Marx. Representados por Proudhon e posteriormente por Bakunin, os anarquistas sustentavam que a extinção do Estado e das classes sociais deveria ser imediata (isto é, não seria um processo gradativo), e a autogestão econômica e política, a prioridade do movimento anticapitalista. Por isso, preferiam ser considerados libertários e não comunistas. As divergências entre anarquistas e marxistas desenrolaram-se ao longo de toda a I Internacional. A partir de 1880, sobretudo, os termos “comunista” e “socialista” ficaram ligados fundamentalmente aos seguidores de Marx. Com a vitória da Revolução Russa de 1917, o movimento comunista expandiu-se por todo o mundo, sendo fundados partidos comunistas em dezenas de países. Aglutinados em torno da Internacional Comunista, sediada em Moscou, esses partidos empreenderam movimentos insurrecionais e conquistaram o poder em vários países. Mais tarde, o movimento comunista contemporâneo passou por divergências que ganharam várias tendências opostas, cada uma delas atribuindo a si própria a maior fidelidade ao pensamento de Marx e Engels. Assim ocorreu na divergência entre Lênin e os representantes da II Internacional, no rompimento entre Stálin e Trotski, na denúncia de Stálin por Kruschev, nas divergências e conflitos entre a União Soviética e a China, entre esta e a Albânia e no afastamento dos dirigentes do eurocomunismo em relação aos soviéticos. Atualmente, em consequência da desagregação dos regimes comunistas dos países do Leste Europeu, os partidos comunistas dos países capitalistas também entraram em colapso. Com uma estrutura burocrática muito rígida, com a excessiva centralização da economia e com um aparato político repressivo, os regimes comunistas do Leste Europeu não puderam acompanhar a revolução tecnológica que marcou os países capitalistas desenvolvidos a partir dos anos 70. Como durante todo esse período continuaram a dar prioridade à indústria pesada e de armamentos, as populações desses países continuaram à margem da produção dos produtos de consumo, responsável pela melhoria do padrão de vida dos seus vizinhos ocidentais. À exceção de Cuba, da Coreia do Norte e da Albânia, em todos os demais países o planejamento central deu lugar ao mercado como principal alocador de recursos. Na China, embora a orientação seja na direção de uma economia de mercado, o regime político ainda continua fechado e dominado pelo Partido Comunista. Veja também Anarquismo; Capitalismo; Marxismo; Socialismo; Utopia.