Filósofo e economista alemão, o mais eminente teórico do comunismo. Estudante universitário em Berlim, ligou- se à chamada esquerda hegeliana, frontalmente contrária ao absolutismo prussiano. Doutorou-se em Direito pela Universidade de Iena com a tese Sobre as Diferenças da Filosofia da Natureza de Demócrito e Epicuro, influenciado pela dialética de Hegel. De maio de 1842 a janeiro de 1843, foi redator-chefe do jornal Rheinische Zeitung (Gazeta Renana), editado em Colônia, porta-voz do liberalismo alemão. Foi por força de seu trabalho jornalístico que abordou, pela primeira vez, temas de natureza econômica, ao analisar a ruína dos vinhateiros do Mosela e as questões jurídicas relativas ao furto da lenha praticado pelos camponeses alemães. Datam dessa época os artigos “A Liberdade de Imprensa”, “Manifesto sobre a Escola Histórica do Direito”, “Debates Motivados pela Lei contra o Furto da Lenha”, “Justificação do Correspondente do Mosela”. O trato com esses problemas levou-o a perceber a contradição entre a concepção hegeliana do Estado, que deveria ser a encarnação do “interesse geral”, e as leis emanadas da Dieta Provincial renana, voltadas basicamente para a defesa da propriedade privada. Segundo Ernest Mandel, já nessa época Marx teria vislumbrado a noção da mais-valia, de ampla utilização posterior. Ao analisar uma disposição penal que atribui ao proprietário o trabalho do ladrão para compensar suas perdas, ele teria percebido que é o trabalho forçado não retribuído a fonte das “percentagens”, isto é, do lucro. No entanto, sua postura política nesse período era a de um liberal radical. A adesão ao socialismo viria a ocorrer em Paris, onde Marx se exilou após o fechamento do Rheinische Zeitung pelo governo prussiano. Na capital francesa, ele entrou em contato com um movimento operário relativamente amadurecido e com revolucionários de toda a Europa, entre os quais Bakunin, teórico do anarquismo. Além disso, conheceu Friedrich Engels, cuja amizade marcaria sua vida e sua obra. Foi por influência de Engels que Marx se voltou para o estudo dos escritos de Adam Smith, Ricardo e outros economistas clássicos ingleses. Em Paris, Marx fundou, com outros intelectuais alemães, a revista Deutsch-Französische-Jahrbücher (Anais Franco-Alemães), que teve um único número. Dois artigos da revista trazem sua assinatura: “A Questão Judaica” e “Contribuição à Crítica da Filosofia do Direito”. Sob a influência do materialismo de Feuerbach, rompeu com o idealismo de Hegel e procurou fundamentar a análise do Estado e do direito na “autonomia da sociedade civil”, isto é, nas relações sociais concretas. A partir de 1844, juntamente com Engels, dedicou-se a fundamentar teoricamente o socialismo (então dominado pelo pensamento utopista). Seus estudos de economia política resultaram na elaboração de Manuscritos Econômico-Filosóficos de 1844 (publicados somente em 1932). O tema central é a problemática da alienação, herdada de Hegel e Feuerbach, mas que recebe um fundamento socioeconômico. Para Marx, o homem alienado não é mais o indivíduo entregue a um sonho religioso ou especulativo, mas o homem que habita uma sociedade desumanizada, que tem seu fundamento na propriedade privada. No entanto, Marx não atinge ainda a essência da exploração nos quadros do capitalismo, pois refuta com veemência a teoria do valor-trabalho elaborada por David Ricardo. Paralelamente, trabalhando em conjunto, Engels e Marx aprofundaram o ajuste de contas com a filosofia de Hegel e Feuerbach. Isso ocorre em A Sagrada Família (1844) e em A Ideologia Alemã, na qual elaboram o primeiro esboço do materialismo histórico. O trabalho seguinte de Marx foi A Miséria da Filosofia (1847), em que as questões econômicas receberam um tratamento especial. Marx aceitou e incorporou a seu pensamento a teoria do valor-trabalho de Ricardo. As concepções econômicas presentes na obra serviram de fundamento para o ajuste de contas com o socialismo utópico, particularmente com o pensamento doutrinário de Proudhon, autor de Filosofia da Miséria. Foi também no ano de 1847 que Marx e Engels escreveram O Manifesto Comunista, espécie de programa e carta de princípios da Liga dos Comunistas, organização revolucionária que os dois amigos ajudaram a fundar. O manifesto apresenta, a partir das concepções do materialismo histórico, uma análise da sociedade capitalista. Além disso, fundamenta a teoria do socialismo científico, apresenta o programa da revolução proletária e a função histórica da ditadura do proletariado. No mesmo período surge Trabalho Assalariado e Capital (conferências pronunciadas em Bruxelas), em que Marx delineia os primeiros esboços da teoria da mais-valia com base na teoria do valor-trabalho. Em A Miséria da Filosofia, O Manifesto Comunista e Trabalho Assalariado e Capital, Marx e Engels apresentaram uma primeira visão de conjunto do modo de produção capitalista e sua possível evolução. Mas os trabalhos teóricos deveriam esperar: em 1848, a eclosão do movimento revolucionário em vários países europeus conduziu Marx e Engels de volta à Alemanha, onde editaram a Neue Rheinische Zeitung (Nova Gazeta Renana), procurando orientar as ações do proletariado alemão. O fracasso da revolução levou-os a novo exílio, dessa vez em Londres. Com a ajuda de Engels, Marx procede a um minucioso estudo das crises cíclicas do capitalismo, no qual a problemática dos ciclos econômicos é vista em estreita relação com os problemas suscitados pela ação política. É dessa época a obra As Lutas de Classe na França 1848-1850, cuja temática do estudo e do comportamento das classes sociais se desdobra e se aprofunda em O 18 Brumário de Luís Bonaparte (1852). Após a dissolução da Liga dos Comunistas, Marx voltou-se para um estudo em profundidade da Economia Política. Foram anos de extrema miséria, a sobrevivência precariamente garantida pela ajuda de Engels e pela colaboração com o jornal norte-americano New York Daily Tribune. As pesquisas desenvolvidas nesse período resultaram na Contribuição à Crítica da Economia Política (1857), nos Grundrisse (conjunto de rascunhos só publicados em 1939 com o nome de Fundamentos para a Crítica da Economia Política) e nas Teorias da Mais-valia, obra que mais tarde Marx pretendeu publicar como Livro Quarto de O Capital. Ao mesmo tempo que redigia O Capital, Marx voltou suas atenções para o movimento operário, contribuindo decisivamente, ao lado de Engels, para a fundação da Associação Internacional dos Trabalhadores (I Internacional), criada em Londres em 1864. Foi numa das reuniões do conselho geral da Internacional que expôs pela primeira vez, em forma de conferência, sua teoria definitiva dos salários, publicada postumamente com o nome de Salário, Preço e Lucro. Afinal, em 1867, veio a público o primeiro volume de O Capital. Os outros dois volumes, inacabados, foram publicados em 1885 e 1894 por Engels, que para eles elaborou inúmeras notas explicativas e redigiu passagens incompletas. A doença contribuiu para que Marx não desse forma final aos outros volumes de sua mais importante obra. Outro fator foi seu compromisso com a militância política: inúmeras vezes Marx abandonou seu trabalho científico para dedicar-se ao movimento operário. Assim procedeu por ocasião da Comuna de Paris (1871), cujos acontecimentos foram analisados por ele em A Guerra Civil na França, um dos mais perfeitos exemplos de análise política de conjuntura, pois mostra as concepções ideológicas, as alianças e conflitos entre as classes sociais na cena política. Outra obra dedicada à formação política do proletariado foi a Crítica ao Programa de Gotha (1875), uma análise do programa da social-democracia alemã, publicada depois de sua morte. Na ocasião de sua morte, em 1883, Engels disse a seu respeito, na oração fúnebre: “Assim como Darwin descobriu a lei do desenvolvimento da natureza orgânica, Marx descobriu a lei do desenvolvimento da sociedade humana: o fato tão simples, mas que até ele se mantinha oculto pelo ervaçal ideológico, de que o homem precisa, em primeiro lugar, comer, beber, ter um teto e vestir-se antes de fazer política, ciência, arte, religião etc.; e que, portanto, a produção dos meios de subsistência imediatos, materiais e, por conseguinte, a correspondente fase econômica do desenvolvimento de um povo ou de uma época é a base a partir da qual se desenvolveram as instituições políticas, as concepções jurídicas, as ideias artísticas e inclusive as ideias religiosas dos homens e de acordo com a qual devem explicar-se; e não o contrário, como se vinha fazendo até então”. Veja também Comunismo; Engels, Friedrich; Internacional Socialista; Mais-valia; Marxismo; Materialismo Histórico; Revolução Socialista; Socialismo; Utopia.