Conjunto das transformações tecnológicas, econômicas e sociais ocorridas na Europa e particularmente na Inglaterra nos séculos XVIII e XIX, e que resultaram na instalação do sistema fabril e na difusão do modo de produção capitalista. O processo foi impulsionado, numa primeira fase, pelo aperfeiçoamento de máquinas de fiação e tecelagem e pela invenção da máquina a vapor, da locomotiva e de numerosas máquinas-ferramentas. Em outro aspecto, a Revolução Industrial pode ser vista como o ponto alto de um longo processo de transformação no âmbito das forças produtivas, tendo suas raízes na crise do sistema feudal europeu. Suas fases preparatórias, entre os séculos XIV e XVIII, foram o renascimento comercial, desenvolvimento do artesanato de base corporativista, a Revolução Comercial e o surgimento do sistema manufatureiro baseado no trabalho assalariado doméstico. Da conjunção desses fatores resultou a indústria capitalista mecanizada tal como a conhecemos. A aceleração do processo produtivo teve início na Inglaterra, entre 1750 e 1830, a partir de inovações tecnológicas na atividade têxtil. Entre as principais realizações dessa primeira fase da Revolução Industrial se destacam a lançadeira volante de John Kay; a máquina de fiar (a jenny) de James Hargreaves, que substituiu a roca; a máquina de fiar movida a água, de Richard Arkwright; e o tear mecânico de Edmund Cartwright. Outra descoberta decisiva foi a máquina a vapor de movimentos circulatórios, patenteada por James Watt, em 1781, que passou a ser empregada como força motriz em vários processos industriais. O pano de fundo dessas inovações era a expansão colonial e mercantil britânica, que forneceu capitais e matérias-primas para a nascente atividade manufatureira. Entre 1700 e 1750, a produção industrial inglesa destinada ao mercado doméstico cresceu 7%, enquanto os produtos de exportação aumentaram em 76%. As colônias eram um espaço reservado à produção metropolitana, e constituíam um mercado consumidor em crescente expansão, aspecto decisivo para viabilizar a produção em larga escala, a custos menores que os da produção artesanal. O acréscimo da produção de artigos de consumo refletiu-se, numa segunda fase, no aumento da produção de novas máquinas, o que acarretou a considerável expansão da siderurgia e o aperfeiçoamento dos processos de fundição. Esses, por sua vez, aceleram o crescimento da atividade extrativa do carvão. Mas foi a aplicação industrial das máquinas a vapor que inaugurou a fase decisiva da Revolução Industrial. A produção mecanizada, até então ligada ao uso de energia hidráulica, libertou a indústria da necessidade de ficar sempre próxima dos rios. As fábricas migraram, então, para perto das áreas produtoras de matérias-primas, e o emprego das máquinas a vapor nos meios de transporte (locomotiva e navios), a partir de 1830, interligou os centros industriais aos mercados consumidores e facilitou o acesso rápido e eficiente às fontes de recursos naturais. Paralelamente, a indústria mobilizava as mais recentes conquistas em todos os ramos do conhecimento científico. Assim, os progressos no campo da eletricidade conduziram à melhoria dos meios de comunicação, com a invenção do telégrafo e do cabo submarino. O desenvolvimento técnico na indústria foi acompanhado de profundas transformações na agricultura. Embora a população rural britânica tenha se reduzido drasticamente desde a implantação das enclosures (cercamento das terras), a introdução de novas técnicas permitiu o abastecimento dos crescentes contingentes urbanos. A regularidade da alimentação aliou-se à melhoria das condições sanitárias e de saúde, contribuindo para o crescimento demográfico. A população da Grã-Bretanha, por exemplo, passou de 7 para 20 milhões entre 1750 e 1850, o que ampliou a oferta de mão de obra e o mercado consumidor. O desenvolvimento da indústria refletiu-se imediatamente na vida financeira, sobretudo na Inglaterra, onde, a partir de 1850, surgiram grandes bancos e estabelecimentos de crédito. A circulação monetária ampliou-se, mobilizando os metais preciosos procedentes das minas da Austrália e da Califórnia, e nos centros distribuidores foram instalados os primeiros grandes estabelecimentos comerciais. No plano político, a segunda metade do século XIX viu a aristocracia de base agrária ser substituída, na direção dos negócios do Estado, pela burguesia industrial e financeira. Ausente do processo produtivo, o Estado orientava-se segundo os princípios do liberalismo político e econômico, cabendo-lhe fundamentalmente a defesa da ordem capitalista e do sistema de livre- concorrência. Enquanto isso, o desenvolvimento da produção mecanizada estendeu-se a outros países da Europa. Na França, a industrialização iniciou-se durante o império napoleônico (1804-1815); na Alemanha, isso ocorreu depois de 1840 e intensificou-se após a unificação nacional (1870). Nos Estados Unidos, a Revolução Industrial acelerou-se depois da Guerra de Secessão (1861-1865) e da conquista do Oeste, o que ampliou o mercado consumidor e a oferta de grande quantidade de matérias-primas. Apesar dessas profundas transformações econômico-sociais, a Revolução Industrial foi um processo contraditório. Ao lado da elevação da produtividade e do desenvolvimento da divisão social do trabalho, manifestava-se a miséria de milhares de trabalhadores desempregados e de homens, mulheres e crianças obrigados a trabalhar até dezesseis horas por dia, privados de direitos políticos e sociais. Essa situação da classe operária levou à formação dos primeiros sindicatos, à elaboração do pensamento socialista e à irrupção de inúmeros movimentos, levantes e revoltas de trabalhadores que marcaram toda a vida europeia ao longo do século XIX. Veja também Capitalismo; Comunismo; Revolução Comercial; Sindicato; Sindicalismo; Socialismo.