Trabalho cujo produtor não é seu proprietário, nem dos produtos por ele criados, pois estes são apropriados pelo capitalista, senhor dos meios de produção e, momentaneamente, proprietário da própria força de trabalho do operário. Nessas condições, o produto do trabalho aparece ao sujeito da criação — o trabalhador — como algo que lhe é estranho, uma força independente dele, na qual não se reconhece. Por isso, o trabalho assume o caráter de algo forçado, que constitui apenas um meio de o assalariado ganhar sua sobrevivência. O tema, um dos pontos centrais e mais polêmicos do marxismo, já fora abordado antes de Marx. Hegel e Feuerbach dão ao assunto um tratamento antropológico: o trabalho alienado é visto como uma condição da natureza humana pois, ao produzir, ao relacionar-se com a natureza, o homem se exterioriza, aliena sua essência (o trabalho) por meio das coisas por ele criadas. Essa visão também é compartilhada em muitas passagens dos escritos do jovem Marx, dos Manuscritos Econômico-Filosóficos, de 1844, à Ideologia Alemã, para voltar recriada em O Capital, na teoria do fetichismo da mercadoria. Para Marx, o trabalho alienado está presente em todas as formas assumidas historicamente pela sociedade de classes: escravismo, feudalismo, atingindo seu auge no capitalismo. Ao mesmo tempo que define o trabalho alienado como algo socialmente determinado, e não como algo inerente à natureza humana (Ideologia Alemã), Marx aponta os caminhos de sua superação. Para ele, a base do trabalho alienado localiza-se na propriedade privada — resultado, meio e produto da alienação. Esta se amplia ilimitadamente no capitalismo, atingindo todos os indivíduos, todas as relações sociais, mediadas pela mercadoria. O trabalho alienado nessas condições se dá em decorrência da venda da força de trabalho pelo assalariado, pela apropriação do produto do trabalho pelo empresário que, ao definir e organizar o trabalho a ser feito pelo operário, retira do trabalhador a própria capacidade de projetar seu ato criador, uma das características essenciais que diferenciam o homem do animal. A superação do trabalho alienado, para Marx, não está apenas na tomada de consciência dessa situação, mas no ato transformador das condições históricas que o engendraram, no caso, a sociedade baseada na propriedade privada. Numa sociedade igualitária, em que impere a propriedade coletiva dos meios de produção e a gestão da economia pelo conjunto dos produtores, o trabalho alienado perderia sua base objetiva de existência. Nessas condições, o homem reencontrar-se-ia com sua essência e orientaria seu trabalho criador. Apesar disso, tendo em vista as condições do socialismo real, há entre os próprios marxistas a discussão sobre a existência da alienação nesse tipo de sociedade. Ernest Mendel, em seu livro A Formação do Pensamento Econômico de Karl Marx, aponta a existência de condições históricas para a subsistência da alienação no período de transição do capitalismo para o socialismo, na medida em que persistem “a produção mercantil, a troca da força de trabalho por um salário estritamente limitado e calculado, a obrigação econômica dessa troca, a divisão do trabalho (e, principalmente, a divisão do trabalho em trabalho manual e trabalho intelectual etc.). E numa sociedade de transição burocraticamente deformada ou degenerada, esses fenômenos arriscam-se mesmo a tomar cada vez mais amplitude”. Veja também Alienação; Fetichismo da Mercadoria.