Linha de pensamento econômico que vai da publicação do livro A Riqueza das Nações, de Adam Smith, em 1776, aos Princípios de Economia Política, de John Stuart Mill, de 1848, e é marcada pela obra de David Ricardo, Princípios de Economia Política e Tributação, de 1817. Fundada por Smith e Ricardo, a escola clássica desenvolveu-se nos escritos de Malthus, Stuart Mill, McCulloch, Senior e do francês Jean- Baptiste Say. Com os representantes da escola clássica, a economia adquiriu caráter científico integral quando passou a centralizar a abordagem teórica na questão do valor, cuja única fonte original era identificada no trabalho em geral. Além da teoria do valor-trabalho, do uso do método dedutivo, do materialismo e da preocupação em simplificar e generalizar as proposições econômicas e de uma visão de conjunto da evolução econômica, a escola clássica baseou-se nos preceitos filosóficos do liberalismo e do individualismo e firmou os princípios da livre- concorrência, que exerceram decisiva influência no pensamento revolucionário burguês. A escola clássica também é caracterizada por enfatizar a produção, relegando a segundo plano o consumo e a procura. Para Adam Smith, o objeto da economia está indicado no título completo de sua obra: é uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações, entendendo-se por riqueza os bens que possuem valor de troca. Adam Smith distingue o valor de uso do valor de troca das mercadorias, destacando que este último é determinado pela quantidade de trabalho necessária para produzi-las. Para os fisiocratas, apenas o trabalho na agricultura produzia valor. Smith refutou-os, demonstrando todas as atividades que produzem mercadorias. E, contra as concepções mercantilistas, Smith argumenta que a riqueza é constituída pelos valores de troca, e não pela moeda, que é apenas o meio que permite a circulação dos bens. Baseando-se na teoria do valor-trabalho, Smith mostra que o crescimento da riqueza de uma nação depende essencialmente da produtividade do trabalho, que, por sua vez, é função do grau de especialização, ou da extensão, obtida pela divisão do trabalho, determinado pela expansão do mercado e do comércio. Nesse processo, todos os participantes ganhariam, beneficiando-se do aumento da produtividade. Smith conclui, então, pela remoção de todas as barreiras ao comércio interno e externo. A política livre-cambista deveria ser posta em prática, uma vez que só ela conduziria ao desenvolvimento das forças produtivas. O padrão mercantilista de regulamentação estatal e controle passa também a ser claramente contestado. A política econômica deveria ser medida por seus efeitos sobre o processo de riqueza e por suas consequências sobre a acumulação de capital e especialização do trabalho. A verdadeira fonte de riqueza de um país é seu trabalho, e ela só pode ser elevada com o aumento da produtividade, com a extensão de sua especialização e com a acumulação do produto sob a forma de capital. Essas proposições seriam endossadas por Ricardo, que colocou o trabalho como determinante do valor de troca. O valor de determinada mercadoria seria dado pela quantidade de trabalho empregada para produzi-la. O trabalho seria, portanto, fonte de todo o valor. Em suas análises, Ricardo localiza uma contradição entre o valor de troca e o preço relativo das mercadorias, que só seria resolvida muitos anos mais tarde por Marx, ao analisar a transformação do valor de troca em preço de produção. As principais questões da escola clássica são as que se incluem hoje dentro da teoria do valor e da distribuição. A distribuição do produto nacional continuou sendo tratada de modo tradicional, por meio da divisão do produto em três partes destinadas a remunerar o trabalho (salários), o capital (o lucro) e a terra (renda). Em seguida, o trabalho de Say e seus discípulos, os rendimentos do capital, denominados juros, passaram a ser considerados de modo separado dos lucros. A teoria clássica do valor destaca o fato de que os preços dos bens produtivos eram proporcionais aos respectivos custos de produção, quando prevaleciam as leis de livre- concorrência do mercado. Porém os custos não significavam apenas as despesas em capital dos produtores, mas, principalmente, os “custos reais”, o custo do esforço humano em produzir determinado produto em detrimento da produção de outro. A teoria dos preços desdobra-se numa teoria da repartição que visa a explicar a renda, a terra, o salário, o juro e o lucro. Ao mesmo tempo, a escola clássica apresenta uma visão de conjunto da dinâmica econômica, na qual os elementos decisivos são o princípio do crescimento populacional de Malthus, a lei dos rendimentos não proporcionais e o princípio da acumulação de capital. Outra característica da economia clássica é a suposição do emprego constante de todas as fontes produtivas disponíveis. A teoria clássica é elaborada em função de um equilíbrio automático que ignora as crises e os ciclos econômicos. Desse modo, a oferta deve criar necessariamente sua procura (Say), e a soma dos salários e dos ganhos retidos pelos consumidores deve corresponder à quantidade global de bens oferecidos no mercado. No contexto pragmático da escola clássica, destaca-se ainda a teoria de Ricardo sobre a renda da terra, que estava relacionada ao aumento da população, o que explicava a alta renda fundiária da Inglaterra. Ricardo admitia que o proprietário rural ocupava áreas menos férteis à medida que a população aumentava. Desse modo, os proprietários das terras mais férteis beneficiavam-se com a elevação dos custos de produção em outras áreas, uma vez que os preços dos produtos seriam mantidos para cobrir os custos mais elevados em terras de baixa categoria. Assim, acabariam tendo uma maior receita, independentemente do capital e do trabalho aplicados na produção. Esse excedente econômico foi denominado por Ricardo renda diferencial da terra. Com o crescimento dessa renda diferencial, os proprietários rurais iriam se apropriar de um excedente econômico maior, em detrimento dos capitalistas, que teriam seus lucros reduzidos, a ponto de colocar em perigo a acumulação de capital, prejudicando o desenvolvimento econômico. Para superar esse problema, Ricardo propõe o livre-cambismo no comércio internacional, que permitiria aproveitar as melhores terras em escala mundial. Formula, assim, a teoria das vantagens comparativas, na qual demonstra as vantagens de um país importar determinados produtos, mesmo que pudesse produzi-los por preço inferior, desde que suas vantagens comparativas em outros produtos fossem maiores. Contra a intervenção estatal, a escola clássica apoia-se no liberalismo e no individualismo. Os clássicos ingleses propõem um sistema de liberdade econômica, pois seria mediante o mecanismo impessoal do mercado que se conseguiria harmonizar os interesses individuais. Entretanto, as revoluções que ocorreram na Europa no período de 1830 a 1848 mostraram que a harmonia de uma “ordem natural” e do não intervencionismo preconizado pela escola clássica era remota. O liberalismo e o individualismo começam então a sofrer várias críticas de pensadores preocupados com os problemas econômicos e sociais. E já na obra de Stuart Mill, considerada um resumo de todo o pensamento da escola clássica, surgem indícios de aceitação de algumas restrições à liberdade individual. Assim, contra o liberalismo da escola clássica desenvolvem-se, a partir de 1830, reações doutrinárias que apresentam diferentes concepções de mundo. Surgem a doutrina intervencionista de Sismonti, o industrialismo de Saint-Simon, o nacionalismo de List, o liberalismo otimista de Bastiat e o socialismo utópico de Fourier e Proudhon. Esses autores apontam algumas das principais falhas do pensamento clássico — identificam crises e depressões da atividade econômica, destacam a questão do desemprego eventual e econômico, a distribuição desigual de renda e a oposição entre os interesses individuais e coletivos. Mas falta a essas críticas uma visão global do sistema econômico diante da visão integrada e coerente apresentada pela escola clássica. Marx é o primeiro autor a contestar verdadeiramente a análise realizada pelos clássicos, tanto nas suas premissas e objetivos como em suas conclusões, ao desenvolver a análise do processo capitalista baseado na concepção materialista da História e na luta de classes, embora conservasse dos clássicos parte do instrumental analítico e alguns conceitos, como a teoria do valor-trabalho, que utilizou para desenvolver o conceito de mais-valia.