Conjunto de medidas de contenção da inflação caracterizadas por um choque heterodoxo e implementadas durante o governo Sarney por meio do decreto-lei nº 2.283, de 27/2/1986. Entre as principais medidas adotadas, destacam-se: 1) congelamento de preços nos níveis praticados no dia da publicação do decreto, inclusive o preço dos serviços; 2) alteração da unidade do sistema monetário, que passou a denominar-se cruzado, com valor correspondente a mil unidades de cruzeiro; 3) substituição da ORTN, instituída em 1964, pela Obrigação do Tesouro Nacional (OTN), cujo valor foi fixado em Cz$ 106,40, congelado por um ano; 4) congelamento dos salários pela média de seu valor dos últimos seis meses; 5) congelamento do salário mínimo em Cz$ 804,00; 6) como a economia foi desindexada, instituiu-se uma tabela de conversão para transformar as dívidas contraídas numa economia com inflação muito alta para uma economia em que a inflação fosse praticamente nula; 7) criação de uma espécie de seguro-desemprego para aqueles que fossem dispensados sem justa causa ou em virtude do fechamento de empresas; 8) os reajustes salariais passaram a ser realizados por um dispositivo chamado “gatilho salarial” ou “seguro-inflação”, que estabelecia o reajuste automático de salários sempre que a inflação alcançasse 20%. Nas primeiras semanas após seu lançamento, o Plano Cruzado despertou enorme entusiasmo na população. Havia a sensação de que a inflação realmente fora eliminada e que se iniciava uma nova era de prosperidade com estabilização de preços. Em alguns meses, no entanto, a anestesia foi perdendo seus efeitos e os problemas se avolumando. Em primeiro lugar, ficou claro que o congelamento (e o tabelamento) não poderia abarcar todos os preços da economia: era impossível fazê-lo, por exemplo, em relação aos produtos não padronizáveis, como vestuário e moradia. Em segundo lugar, os empresários aprenderam rapidamente a “maquiar” seus produtos, escapando do congelamento e do tabelamento. Em terceiro lugar, alguns preços foram congelados antes de ser alinhados, como aconteceu, por exemplo, com a maioria dos preços do setor público. Em quarto lugar, a eliminação da correção monetária e, consequentemente, a redução das taxas de juros nominais estimularam o consumo e inibiram a poupança: a expansão da demanda correspondente conspirou contra o congelamento e criou o caldo de cultura para a ampliação do mercado negro e cobrança de ágio. Em quinto lugar, a taxa cambial permaneceu congelada durante nove meses, enquanto vários preços se elevaram no mercado interno: isto, ao mesmo tempo que estimulou as importações, desestimulou as exportações, provocando uma erosão nas reservas internacionais do país e inviabilizando os mecanismos de pagamento do serviço da dívida externa. Estas tensões foram represadas até as eleições de novembro de 1986. Depois desta data, com a expressiva vitória dos partidos da situação (especialmente o PMDB), o Plano Cruzado sofreu profundas modificações e a inflação voltou com intensidade, agora acompanhada por um claro processo recessivo. No primeiro semestre de 1987, depois da declaração de moratória (parcial) pelo governo brasileiro, a inflação atingiu níveis superiores a 25% mensais e o ministro Dílson Funaro foi substituído por Bresser Pereira. O Plano Cruzado teve como base teórica os trabalhos de Francisco Lopes, André Lara Resende e Pérsio Arida. Veja também Choque Heterodoxo; Funaro, Dílson Domingues; Inflação Inercial; Plano Bresser; Plano Real; Plano Verão.