Anunciado em 15/1/1989, foi o terceiro choque econômico e a segunda reforma monetária do governo Sarney, depois de a inflação ter acusado um índice acumulado de 933,62% em 1988. Elaborado sob a supervisão dos ministros Maílson da Nóbrega (Fazenda), João Batista Abreu (Planejamento), Dorothéa Werneck (Trabalho) e Ronaldo Costa Couto (Casa Civil), o Plano Verão teve a mesma concepção dos pacotes anti-inflacionários aplicados anteriormente no Brasil e em outros países. Por meio do recurso constitucional da medida provisória, dependente de posterior aprovação pelo Congresso, o Plano Verão adotou as seguintes providências: congelamento dos preços (com prazo indefinido), extinção da Obrigação do Tesouro Nacional (OTN) e da Unidade de Referência de Preços (URP), criação do “cruzado novo” (valendo mil cruzados antigos), e desvalorização do câmbio em 16,3805%. A partir daí, o câmbio ficou congelado até segunda ordem, o dólar norte- americano passou a valer 1 cruzado novo, e o dólar-turismo teve suas cotações fixadas pelo mercado. O choque determinou a suspensão do processo de indexação da economia (correção monetária). Os gastos da administração federal, geradores de déficit público, deveriam, segundo o governo, ser limitados ao montante da arrecadação de cada órgão. Preços — O Plano Verão congelou preços, serviços e tarifas públicas por tempo indeterminado, a partir de 15/1/1989, não sem antes “realinhar” os preços dos combustíveis e da energia elétrica. Listas básicas regionais com até duzentos itens tabelaram os preços de gêneros alimentícios e produtos de higiene e limpeza, ficando “engessados” também aqueles — como os dos automóveis — que o governo podia vigiar ou administrar. Previu-se um descongelamento lento e gradual a partir de março de 1989. Em abril, foi criado um sistema de reajuste trimestral para preços. O objetivo era solucionar o problema da defasagem e sair do congelamento sem uma explosão de remarcações. Salários — A URP foi extinta, mas se garantiu sua aplicação correspondente ao mês de janeiro de 1989. Para calcular o salário de janeiro de 1989, multiplicou-se o salário de dezembro de 1988 por 1,2605 (URP de janeiro = 26,05%). Salários que ficassem abaixo da média analisada de 1988 seriam aumentados até atingi-la. Durante a tramitação da matéria pelo Congresso, aprovou-se uma cláusula de reposição das perdas salariais de janeiro. Essa reposição dar-se-ia de acordo com a diferença entre a URP de janeiro e a taxa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do mês, que alcançou 35,48%, a ser paga em três parcelas, de março a maio de 1989. Em abril de 1989, decidiu-se que os assalariados receberiam um reajuste que variava entre 11,31% e 18,71%, de acordo com a data-base de cada categoria profissional. A reposição que seria aplicada aos salários de maio foi antecipada para abril. O governo jogou para o Congresso a tarefa de fixar a política salarial, o que, de certa forma, postergava sua efetiva aplicação. Moeda — A reforma cortou três zeros no cruzado, menos de três anos depois do nascimento da nova moeda: um recorde de envelhecimento que deixou o país na peculiar situação de ter três tipos diferentes de cédulas em circulação: as de cruzeiro carimbadas, as de cruzado e as de cruzado novo. Criou-se uma moeda nova antes que a antecessora da atual tivesse saído de circulação. Correção Monetária — Ficou extinta e se congelou a OTN mensal pelo valor então vigente de CZ$ 6.170,19 ou NCz$ 6,17. Todavia, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) continuaria a medir a inflação oficial (de 3,60% em fevereiro, foi aumentando e atingiu 9,94% em maio), até o estabelecimento de algum novo critério de indexação. Poupança — O rendimento da caderneta de poupança passou a ser determinado em fevereiro de 1989 pelo resultado do overnight ou pelo IPC (dos dois, o índice que resultasse maior), e, a partir de maio, pelo IPC, em todos os casos acrescidos de 0,5% de juro real. Com o fim da correção pela OTN, os aluguéis passaram a ser corrigidos por índices próprios. E uma tablita de deflação foi aplicada às prestações vencidas de contratos a prazo e compras a crédito, feitos de 1º/1/1988 a 15/1/1989. Juros — O Banco Central elevou a taxa de juros no overnight, mantendo- a entre 25 e 30% ao mês em janeiro e fevereiro de 1989, para incentivar as aplicações financeiras, desestimular a formação de estoques e conter o consumo. Em abril, com a perspectiva de reindexação de preços e salários, a taxa real de juros caiu para 11,51%. Estatais e cortes — O governo submeteu ao Congresso (que não aprovou) um projeto de lei propondo regras para a privatização de empresas estatais. Para reduzir o déficit público a zero, anunciou-se o propósito de gastar só o que se arrecadasse (nenhum órgão poderia empenhar despesas sem autorização prévia do Tesouro); demitir até 60 mil funcionários contratados sem concurso nos últimos cinco anos; executar judicialmente os devedores da União, fossem pessoas físicas, fossem jurídicas; vender bens de empresas estatais deficitárias; extinguir cinco ministérios, a saber: do Bem-Estar Social, da Irrigação, da Reforma Agrária, da Administração e da Ciência e Tecnologia. Esta última medida também não foi aprovada na íntegra pelo Congresso, nem se registraram medidas práticas para o cumprimento dessas recomendações. Dívida externa — Suspenderam-se as operações de reempréstimos por um ano. Conversões da dívida continuaram, mas os leilões de janeiro de 1989 foram suspensos.